O brasileiro “Bacurau” terá a sua estreia portuguesa apenas dois meses depois da passagem na Competição Oficial do Festival de Cannes, onde venceu o Prémio do Júri e se tornou, ao lado de “O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte, o único filme brasileiro a ser galardoado no certame.
Até ao momento, a obra de Kléber Mendonça Jr., realizada em parceria com Juliano Dornelles, não tem data de lançamento comercial no país, mas será exibida no Curtas de Vila do Conde, que decorre entre 6 e 14 de julho e contará com a presença do cineasta durante toda a sua extensão.
Kléber Mendonça Jr. é um nome bem conhecido do circuito alternativo – português inclusive: “O Som ao Redor” e “Aquarius” estrearam por cá e o realizador já mereceu uma retrospetiva integral da sua obra numa edição do Lisbon & Sintra Film Festival.
Enquanto “O Som ao Redor” trazia uma espécie de mosaico naturalista que captava diferentes quotidianos da cidade de Recife, terra do realizador, e “Aquarius” apresentava Sónia Braga como um símbolo da luta da liberdade individual contra o poderio do grande capital, “Bacurau” investe por outras paragens e toma rumos mais alegóricos.
Ao mesmo tempo, distancia-se do realismo social dos primeiros filmes e investe mais particularmente sobre o cinema de género.
Contando novamente com Sónia Braga, que atua ao lado do mítico Udo Kier, o enredo mistura “western”, terror e ficção científica nos confins do Nordeste brasileiro. O título remete para um calão de Recife, referindo-se ao último autocarro a fazer o itinerário durante a madrugada. No filme, Bacurau é uma comunidade que, subitamente, descobre que desapareceu dos mapas.
Apesar de muita leitura política ter sido feita (Kléber Mendonça Jr. foi um forte crítico da destituição de Dilma Rousseff e certamente o é do atual governo brasileiro), a obra vinha sendo desenvolvida desde 2009 e não aborda especificamente as circunstâncias atuais, mas antes propõe uma alegoria mais vasta sobre aspetos do mundo ocidental.
“A História vem-se repetindo da pior maneira possível”, recordou numa entrevista.
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