O alegado movimento woke de Hollywood é um alvo frequente de comentadores e políticos de direita.
Mas para um pequeno estúdio de cinema com sede em Utah, responsável pelo grande sucesso do ano passado "Sound of Freedom" ("Som da Liberdade em Portugal"), trata-se de uma lacuna lucrativa no mercado.
"Hollywood é apenas uma bolha. Eles não estão ligados com a pessoa comum", disse o cofundador da Angel Studios, Jordan Harmon.
“Fazemos filmes para os outros 90%”, disse ele à France-Presse.
Cofundado por quatro irmãos mórmons, a Angel Studios abalou Hollywood em julho passado com o seu 'thriller' de grande sucesso sobre um vigilante, interpretado por Jim Caviezel, que enfrentava um grupo de tráfico sexual de crianças.
Estreado dias após o quinto filme “Indiana Jones”, "Som da Liberdade" deixou a dispendiosa saga da Disney por terra, arrecadando 250 milhões de dólares em todo o mundo.
Apresentando mensagens religiosas evidentes e um enredo que alguns compararam às teorias da conspiração QAnon, o filme viu-se no centro das "guerras culturais" dos EUA.
Mas, de acordo com Harmon, é uma falha atender a ambos os lados das fraturas ideológicas gritantes que deixaram as bilheteiras de Hollywood em declínio recente.
Em troca de taxas mensais, uma base de membros conhecida como “Angel Guild” pode votar através de um aplicativo sobre quais os filmes ou as séries que o estúdio deve comprar, produzir e distribuir.
“É apenas típico empreendedorismo. Ouça o que o seu cliente deseja e faça", ”, disse Harmon.
Favores em cadeia
O Angel Studios começou como VidAngel, um serviço que permitia aos pais assistir a filmes e programas populares sem "peitos, sangue e palavrões".
Seguiu-se um primeiro envolvimento com Hollywood por violação de direitos de autor. Os irmãos mudaram a marca e passaram a fazer títulos originais.
Hoje, muitos filmes e séries da Angel apresentam temas ou histórias fortemente cristãos, e o manifesto da empresa promete conteúdo que “amplifica a luz”.
"The Chosen", uma série de TV sobre a vida de Jesus, originalmente lançada pela VidAngel, obteve mais de 700 milhões de visualizações de episódios.
Mas o estúdio tem sido alvo de duras críticas, principalmente desde “Som da Liberdade”.
Um modelo de "favores em cadeia", que incentivava os fãs a comprar bilhetes de cinema a estranhos e espalhar a mensagem do filme, foi acusado de inflacionar artificialmente os números de bilheteira.
Alguns questionaram como a Angel estava realmente a gastar o dinheiro, o que levou o estúdio a publicar um gráfico de custos e lucros 'online'.
Juntamente com acusações de vender teorias da conspiração, o filme foi acusado de descaracterizar o problema do tráfico.
Embora os fãs tenham dito que chamou a atenção para um problema importante e devastador, outros acusaram o filme de exagerar os factos.
“Os que odeiam podem criticar o que quiserem”, diz Harmon.
“Toda a gente, de repente, enquadrou-o como ‘este é um filme de direita’, quando, na realidade, não há nada nele que seja de direita”, acrescentou.
Muito pró-vida
O próximo filme da Angel, “Sound of Hope: The Story of Possum Trot” ["Som da Liberdade: A história de Possum Trot", em tradução literal], será lançado no fim de semana de 4 de julho e chega com uma mensagem ativista própria.
Conta a história real de uma pequena cidade do Texas na década de 1990, quando 22 famílias decidiram enfrentar a crise dos lares adotivos e adotar dezenas de crianças em situação de risco.
Estreando num ano eleitoral nos EUA, o filme é “muito, muito pró-vida”, diz Harmon, mesmo que não aborde diretamente o debate intenso do país sobre o aborto.
Embora outro sucesso ao nível “Som da Liberdade” pareça improvável, esse sucesso ajudou o estúdio a crescer para cerca de 250 funcionários.
"David", um musical de animação sobre o rei bíblico, está previsto para ser lançado no próximo ano, com os executivos da Angel a afirmar otimisticamente que querem que seja "o filme de animação mais visto alguma vez lançado".
A mudança para a animação faz sentido para um estúdio que vê a Disney como um símbolo dos excessos 'woke' de Hollywood e da tendência de "priorizar a política em vez da narrativa".
“Eles afastaram-se e prejudicaram a sua marca de forma significativa nos últimos anos”, disse Harmon, apontando para "A Acólita", a recente série “Star Wars", que foi criticada em círculos conservadores pelos seus pesados temas LGBTQ.
“Para nós, como fundadores, a nossa visão de longo prazo é tentar competir com a Disney ao mais alto nível, ou morrer a tentar”, resumiu.
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