Luise Rainer, que se tornou a primeira profissional a ganhar dois Óscares de forma consecutiva, um feito que apenas cinco atores conseguiram na história dos prémios, morreu em Londres esta terça-feira aos 104 anos vítima de pneumonia.
Na chamada Era Dourada de Hollywood, dominada por personalidades como Greta Garbo, Bette Davis, Katharine Hepburn, Joan Crawford, Irene Dunne, Barbara Stanwyck ou Jean Arthur, esta atriz de origem alemã ganhou os seus Óscares em 1936 e 1937, algo que só se repetiu com Spencer Tracy, Katharine Hepburn, Jason Robards e Tom Hanks.
As distinções tornaram-na uma das maiores forças na época, mas rapidamente acabaram por se tornar, reconheceria mais tarde, uma maldição: o último filme que fez como protagonista, «Hostages», foi em 1943. Saiu dos EUA e instalou-se em Londres, fazendo subsequentemente apenas aparições pontuais em cinema e televisão. Federico Fellini tentou convencê-la a entrar em «A Doce Vida» (60), mas as conversações caíram por terra quando ele insistiu que ela fizesse cenas de sexo com Marcello Mastroianni e ela quis escrever as suas falas.
Nascida a 10 de janeiro de 1910, Rainer foi protegida do lendário realizador austríaco Max Reinhardt e apareceu em peças e vários filmes alemães até o estúdio americano MGM, à procura de uma nova Greta Garbo, a descobrir e levar para Hollywood, onde fez a sua estreia em 1935 com «A Dama da Máscara».
Apenas um ano mais tarde, ganhou o Óscar pelo seu papel em «O Grande Ziegfeld», onde interpretava a mulher do lendário empresário teatral. Uma das cenas mais famosas mostrava-a ao telefone dando os parabéns ao seu antigo marido pelo casamento com outra atriz com o rosto coberto de lágrimas.
No ano seguinte, a sua representação de uma camponesa chinesa em «Terra Bendita» valeu-lhe novamente o prémio da Academia, apesar de falta de verosimilhança. Um papel «terrível», descreveria depois, «superficial e frívolo».
Nesta época, os vencedores dos Óscares eram anunciados algum tempo antes da cerimónia, que, como recordou numa entrevista em 2003, «não era tão elaborada» como agora acontece.
Rainer explicaria também que «nada pior me podia ter acontecido» do que ganhar os dois Óscares: o estúdio «podia atirar-me para qualquer coisa».
Começaram grandes disputas com a MGM pela falta de liberdade artística. Perante isto, Louis B. Mayer, patrão do estúdio, caracterizá-la-ia como um «Frankenstein que vai destruir toda a nossa empresa» e disse-lhe que, da mesma fora que a criaram, iriam destruí-la. «Bem, ele fez o seu melhor», recordaria a atriz.
Luise Rainer quebrou o contrato logo em 1939. E depois de perder para Ingrid Bergman o papel na grande adaptação do romance de Ernest Hemingway «Por Quem os Sinos Dobram» (1943) noutro estúdio por oposição de Mayer, deixou tudo para trás.
«Era praticamente uma máquina - um instrumento numa grande, grande fábrica, e não podia fazer nada. E saí. Simplesmente fui embora. Voei. Sim, voei [dali para fora]».
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