A atriz norte-americana Cloris Leachman faleceu na terça-feira (26) durante o sono, de causas naturais, informou o seu agente. Tinha 94 anos.
No percurso artístico profissional que foi de 1948 a 2020, do drama à comédia e no cinema e televisão, venceu o Óscar de Melhor Atriz Secundária por "A Última Sessão" (1971), pelo papel da esposa solitária de um treinador de basquetebol do liceu homossexual não assumido, e foi nomeada 22 vezes para os Emmys (um recorde), ganhando oito, o que fazia dela, juntamente com Julia Louis-Dreyfus, a atriz mais premiada de sempre pelos "Óscares da televisão".
Recordada pelos colegas nas redes sociais como uma força da natureza, uma mulher sem complexos ou rodeios nas aparições públicas, que foi despedida de "Lassie" em 1958 por recusar fazer promoção à marca de sopa patrocinadora da série ("Faço a minha própria sopa. Não como a vossa"), foi ainda, aos 82 anos, a concorrente com mais idade a entrar no concurso "Dancing with the Stars" (2008), ficando em sétimo lugar.
Além do filme de Peter Bogdanovich, um dos incontornáveis daquela grande década e dos maiores da história do cinema americano, e apesar de papéis em "Dois Homens e Um Destino" (1969), "Charley and the Angel" (1973), "Vamos Voltar a Viver" (1981), "Texasville" (1990, a sequela de "A Última Sessão"), "Melodia do Coração" (1999), "Espanglês" (2004), "New York, I Love You" (2008) ou nas animações "Os Croods" (2013-2020), os outros grandes momentos no cinema surgiram por integrar o grupo de atores preferidos do comediante Mel Brooks na sua fase mais criativa: foi a Frau Blücher de "Frankenstein Júnior" (1974), em que pronunciar o seu nome era suficiente para assustar os cavalos; a demente enfermeira Diesel de "Alta Ansiedade" (1977) e a revolucionária Madame Defarge de "Uma Louca História do Mundo" (1981).
Na televisão, entrou ainda em "The Nutt House" (1989), uma "sitcom" criada por Brooks cancelada ao fim de cinco episódios.
"Uma notícia tão triste: a Cloris era incrivelmente talentosa. Podia fazer-nos rir ou chorar num instante. Sempre um prazer tão grande nas rodagens. Cada vez que ouvir o relincho de um cavalo, irei pensar para sempre na inesquecível Frau Blücher da Cloris. Ela é insubstituível e fará muita falta", escreveu o lendário comediante nas redes sociais.
Apesar do Óscar e dos trabalhos com Mel Brooks, o impacto de Cloris Leachman foi ainda maior na televisão, onde começou no início da década 1950 e onde se destacam inicialmente o papel da jovem mãe em série "Lassie" (1957-58) e o episódio "It's a Good Life", um dos melhores de "A Quinta Dimensão" (1961).
A carreira disparou com o papel de Phyllis Lindstrom, a senhoria bisbilhoteira e astuta de Mary Richards em "The Mary Tyler Moore Show" ("As Solteironas" em Portugal), transmitida entre 1970 e 1977, um marco na história da televisão americana que, além de dois Emmys, a levou a ter uma série com a sua personagem como protagonista, "Phyllis" (1975-77).
Por esta altura, a sua popularidade era tanta que até foi a Rainha Hipólita, a mãe da Mulher-Maravilha, num episódio de 1975 da série de Lynda Carter.
Outros momentos importantes no pequeno ecrã foram as comédias "The Facts of Life" (1986-1988) e "Raising Hope" (2010-14), ganhando com a segunda o último de oito Emmys, e a participação em vários episódios de "Touched by an Angel" (1997-2003), "Malcolm in the Middle" ("A Vida é Injusta", 2001-2006), com mais dois Emmys, e "The Ellen Show" (2001-2002).
"Cloris Leachman foi a minha mãe na minha segunda série de comédia. Sempre me considerei afortunada por ter a oportunidade de trabalhar com ela. Sentiremos a sua ausência", escreveu a apresentadora.
Ed Asner, que era o produtor irrascível Lou Grant em "The Mary Tyler Moore Show", também prestou a sua homenagem.
"Uma fotografia da última vez que te vi. Sempre bonita. Nada que pudesse dizer superaria a dimensão do meu amor por ti. Até que nos voltemos a entrar, querida", recordou o ator de 91 anos.
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