Morreu Richard Roundtree, que se tornou um ícone do cinema "blaxploitation" e cultural na década de 1970.
O ator norte-americano morreu na terça-feira à tarde na sua casa rodeado pela família, vítima de cancro do pâncreas. Tinha 81 anos.
Richard Roundtree será recordado para sempre como o detetive privado John Shaft e o impacto de "Shaft - Máfia em Nova Iorque" (1971), um dos filmes mais emblemáticos do "blaxploitation", subgénero que se popularizou nos EUA nos anos 1970 e foi fundamental para estimular Hollywood a finalmente escolher atores negros americanos para papéis de protagonistas.
Com o "Theme from Shaft", de Isaac Hayes, a vencer um dos mais inconvencionais Óscares de Melhor Canção Original e a tornar-se outro elemento icónico do 'thriller' de ação, a história acompanhava as tentativas de Shaft para resgatar a filha de um líder da máfia negra do Harlem, acabando envolvido numa guerra de gangues.
Popularizando um dos grandes diálogos do género (“Don’t let your mouth get your ass in trouble”), Roundtree foi aclamado como o primeiro herói de ação negro e uma estrela de cinema, mas o impacto extravasou o cinema, tornando-o um ícone cultural, 'sex symbol' e um símbolo do "Black Power" no grande ecrã.
Roundtree e Shaft tiveram um enorme impacto em cineastas e atores, tanto negros como brancos, sendo o mais óbvio a influência do "blaxploitation" em toda a carreira de Quentin Tarantino, com destaque para a saga "Kill Bill" (2003-2004) e principalmente "Django Libertado" (2012), onde a personagem de Kerry Washington se chamava Brunhilde von Shaft e era apresentada como uma antepassada de John Shaft.
"Costumava considerar uma faca de dois gumes. Mas muitas pessoas de todo o país - e na verdade de todo o mundo - procuraram-me e falaram sobre o que aquele filme significou para elas em 1971", disse Roundtree ao canal NPR em 2019.
"Shaft - Máfia em Nova Iorque" (1971) acabou por ser o primeiro de uma trilogia, com Roundtree a regressar rapidamente para "A Marca de Shaft" (1972) e "Shaft em África" (1973), além de "Shaft" (1973-1974), uma série de sete telefilmes que mereceu mais tarde o seu repúdio.
Houve ainda uma nova versão para o grande ecrã em 2000, com Samuel L. Jackson no papel principal e Roundtree como o seu "Tio" John Shaft, com a dupla a regressar para uma sequela em 2019.
Com uma fotografia do primeiro filme a juntá-los e terminando a citar a letra da canção de Isaac Hayes, Jackson prestou a homenagem nas redes sociais: "Richard Roundtree, o protótipo, o melhor de sempre a fazê-lo! SHAFT, como sabemos, é e sempre será a Sua Criação! A sua morte deixa um buraco profundo não apenas no meu coração, mas tenho certeza que também em muitos dos vossos".
Nascido a 9 de Julho de 1942 em New Rochelle, New Iorque, Roundtree nunca voltou a ter o mesmo impacto, mas a carreira, que começou em 1963 como modelo e a seguir como ator nos palcos, teve mais de 160 créditos em cinema e televisão praticamente até ao fim da vida.
Entre muitos títulos de segunda e terceira linha, destacam-se os filmes "Terramoto" (1974), "Assalto em Telavive" (1975), "Fuga Para Atenas" (1978), "O Jogo dos Abutres" (1979), "Inchon" (1981), "Jovens Guerrilheiros" (1983), "Cidade Ardente" (1984), "Amityville: A Nova Geração" (1993), "Seven - 7 Pecados Mortais" (1995), "George - O Rei da Selva" (1997), "Brick" (2005), "O Que os Homens Querem" (2019) e "Moving On (2022).
No pequeno ecrã, destaca-se outro marco, a aclamada minissérie "Raízes" (1977), além de participações como ator convidado em muitas séries da década de 1980 e 1990, de "O Barco do Amor" a "Crime, Disse Ela", passando por "MacGyver", "Os Jovens Cowboys", "Rua Jump 21", "Beverly Hills 90210", "As Teias da Lei", "O Príncipe de Bel-Air" ou "Dra. Quinn".
O ritmo manteve-se no século XXI, com destaque para vários episódios das séries "Donas de Casa Desesperadas", "Heroes", "Being Mary Jane", "Family Reunion" e, mais recentemente, em "Cherish the Day", de Ava DuVernay.
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