Porém, sublinhou o realizador de
«A Bela e o Paparazzo», a medida devia estar formulada «de outra maneira», pois «o problema» está em «aumentar a quota de mercado».
O cinema português, recordou, «é o que tem, mas de longe, (…) a mais baixa quota de mercado de todo o cinema europeu, incluindo Turquia e países que não estão na União Europeia». A média europeia de consumo de filmes nacionais «anda à volta de 23 por cento», enquanto «em Portugal há anos em que é de 0,4 e nos melhores anos é de dois por cento», o que «é absolutamente insustentável», qualificou o realizador.
O aumento da quota de mercado passa – na opinião de
António-Pedro Vasconcelos – por uma alteração do papel do Estado. «Não tem que ser o Estado a dizer que filmes é que se fazem. O Estado tem que abandonar esse papel e devolvê-lo aos agentes da comercialização – distribuidores, exibidores, cadeias de televisão e editores de vídeo, que pagam o cinema português», sustentou.
É preciso, defendeu, «retirar ao Estado o poder de definir quem é que filma, quem é que não filma». Isto «com algumas condições», vincou, exemplificando: apoiar a produção independente, regulamentar as receitas e diversificar os investimentos.
Para contrariar isto, o realizador defendeu que se transformem as taxas em obrigações: «Dizer assim «vocês têm obrigação de investir quatro por cento das receitas, o Estado vai fiscalizar isso, vai regulamentar isso, mas vocês é que decidem que filmes é que querem meter».
Reconhecendo que o mercado de cinema em Portugal é «exíguo, pobre e depauperado», o realizador assumiu que não gosta da política de subsídios – «por definição, subsidiários» e que, portanto, deviam apenas «complementar o défice de mercado». E comparou: «Não são subsídios que vão criar os agricultores, é para apoiar os agricultores».
Na realidade, lamentou, há uma «total [dependência]» dos subsídios no cinema que se faz em Portugal. «Como realizador, não posso planear a minha vida porque dependo de cinco criaturas que vão decidir se eu mereço filmar ou não mereço filmar. (…) Acho inadmissível que num regime democrático se tenha um sistema de financiamento do cinema que é soviético», criticou.
António-Pedro Vasconcelos criticou ainda o conceito de «cinema de autor». «É uma noção completamente pervertida. (…) O
Kubrick não era um autor? (…) O
Clint Eastwood não é um autor? O
Woody Allen não é um autor? É porque têm público que passam a ser comerciais?», questionou, frisando que «é uma perversão que só deu cabo do cinema português» e que não faz sentido um «cinema que não tem público e é apenas escrutinado pela crítica». Há que «repensar que sentido fazem» os filmes que têm 100 espetadores.
Sobre o Programa do Governo para a cultura, António-Pedro Vasconcelos disse que «é muito resumido», elogiando «o compromisso de publicar uma nova lei [do cinema] dentro dos próximos seis meses» e aconselhando o novo Executivo – nomeadamente o secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas – a «não ter problemas em repegar nalgumas ideias» da lei preparada pela anterior ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas.
SAPO/Lusa
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