"Titanic" festeja 25 anos como um clássico do cinema, que lançou a "Leomania" e fez de Kate Winslet uma estrela. Para o bem e para o mal, imortalizou uma canção chamada "My Heart Will Go On". Ganhou 11 Óscares. Durante 12 anos, foi o maior sucesso de bilheteira do mundo.
Entre 19 de dezembro de 1997 e meados de março de ano seguinte, fosse nos EUA, França, Rússia, Japão ou Filipinas, onde existisse cinema, só se falava de "Titanic" (e a canção passava nas rádios e canais de música várias vezes por dia).
Em Portugal, onde chegou a 16 de janeiro de 1998, a febre foi igual em Portugal e acredita-se (não era possível auditar como agora), que foi visto por mais um milhão e trezentas mil pessoas.
Agora é banalíssimo um filme estrear em mais de 60 salas, mas naquela época foi um dos maiores lançamentos de sempre em Portugal. Não chegou: muitas sessões esgotaram e, sem bilheteira online, as pessoas telefonavam para várias salas até conseguirem encontrar bilhetes. Em Lisboa, por exemplo, uma das últimas soluções eram os 170 lugares do minúsculo cinema Turim, que ficava em Benfica (anos mais tarde transformado no Fonte Nova, que também já fechou).
No interior do país, a procura de bilhetes quadruplicou e originou cenas que parecem inimagináveis numa era em que os grandes filmes chegam ao mesmo tempo a todo o lado: faziam-se excursões de várias terras para aquela onde o filme estivesse em exibição e ingressos eram vendidos no mercado negro, naturalmente a preços inflacionados. E com o negócio a correr tão bem nas principais cidades, não era possível libertar as cópias para as do interior, que desesperavam em lista de espera. Até presidentes de câmara metiam-se ao barulho, descendo aos escritórios da distribuidora Filmes Castello Lopes para conseguir o filme numa data específica.
É difícil de acreditar, mas apenas alguns meses antes, muitos acreditavam que "Titanic" seria um dos maiores "flops" da história do cinema. Era apenas "o filme mais caro de sempre" e uma loucura extravagante que iria estourar na cara de um "arrogante" realizador com o ego fora de controlo: James Cameron.
A desconfiança existia desde o início: o estúdio 20th Century Fox aprovou o projeto porque isso significava manter a ligação com Cameron após "A Verdade da Mentira" (1994). Não acreditava que seria um sucesso: o realizador de "Aliens" e "Exterminador Implacável" a fazer uma espécie de "Romeu & Julieta" épica em alto-mar?!
Por isso, a Fox procurou outro parceiro em Hollywood para devidir o investimento e os lucros em que poucos acreditavam. A Universal, ainda a recuperar do desastre comercial do "Waterworld" de Kevin Costner (também em alto-mar), recusou o negócio. Algo que Steven Spielberg descreveria como ridículo: "Afinal de contas, o homem vinha de uma série consecutiva de êxitos. Eu ter-lhe-ia dado o dinheiro de bom grado".
Entrou a Paramount, também desejosa de criar uma relação com Cameron, mas como dizia Bill Mechanic da Fox, "toda a gente pensava que o filme era uma maluquice". Só que o novo sócio não acreditava no orçamento de 109 milhões de dólares e forçou a renegociação do acordo assumindo que, "na pior das hipóteses", ia custar 130. No fim, a conta chegou aos 210 milhões, sem incluir os 100 gastos na campanha de marketing (que os dois estúdios iam dividir 50-50). Mais do que custou o navio.
Para a escalada dos custos contribuiu o facto de o realizador querer que todos os pormenores históricos fossem perfeitos, da réplica à escala real do RMS Titanic construída nos gigantescos tanques dos novíssimos estúdios da Fox em Rosarito, no México, aos pratos usados nas refeições a bordo naquela fatídica viagem de 1912.
Durante a rodagem, além de constipações, gripes e infeções renais que afetaram atores e técnicos, todos descobriram o que Cameron queria dizer quando comparava fazer filmes a uma "guerra": substituiu o diretor de fotografia, outros demitiram-se, foi um perfecionista maníaco que levava todos ao limite, nem que fosse aos gritos; alguns compararam-no a um tirano e Kate Winslet, uma das afetadas, jurou que só voltaria a trabalhar com ele "por muito dinheiro" (vão reencontrar-se para os próximos "Avatar"). Uma noite, mais de 50 pessoas foram parar ao hospital porque alguém, que nunca foi apanhado, drogou a sopa.
As filmagens passaram dos 138 dias previstos para 160. Os custos não paravam de subir e Kathy Bates, a "inafundável" Molly Brown, diria mais tarde que todos pensavam que estavam a fazer um grande fracasso. Bill Mechanic era um dos poucos que acreditava em algo que parecia destinado a fazer rolar cabeças nos estúdios.
Durante e após a rodagem, Fox e Paramount confrontavam-se por causa da derrapagem orçamental, mas James Cameron estava em guerra com os dois: as batalhas passaram por todas as áreas, do filme à campanha de marketing, incluindo o trailer e o poster. A certa altura, uma Fox em pânico sugeriu uma hora de cortes específicos ao filme de três horas para conseguir encaixar mais uma sessão nas salas e aumentar as receitas. A resposta foi: "Querem cortar o meu filme? Vão ter de me despedir! Querem despedir-me? Vão ter que me matar!"
Finalmente, tornou-se evidente que o filme não iria cumprir a data de estreia prevista, 2 de julho de 1997, a pensar na época mais lucrativa do ano nas salas. Após mais algumas épicas discussões, passou para 19 de dezembro, um adiamento que reforçou a convicção em Hollywood: o filme estava perdido, "vai ser o mais desastre de sempre". A imprensa enchia-se de artigos de especulação negativos. E o próprio Cameron admitiu que passou os últimos seis meses antes da estreia absolutamente convencido que o estúdio ia perder 100 milhões.
No outono de 1997, conta-se que os representantes responsáveis pelos visionamentos de imprensa auguravam o pior e estavam à beira do perder os empregos. Nesta altura, a cobertura mediática já não era tão negativa, graças a um primeiro visionamento com público a 14 de julho que gerara reações positivas que começaram a espalhar-se.
Ainda assim, foi contra as expetativas da indústria que "Titanic" ficou em primeiro lugar naquele fim de semana de estreia, com 28,6 milhões, à frente de "007 - O Amanhã Nunca Morre". Logo a seguir, começou uma das história mais estranhas de Hollywood: com o passar dos dias, a popularidade do filme aumentou e as sessões começaram a esgotar. Acabou por ficar 15 semanas em primeiro lugar nas bilheteiras dos EUA, um recorde que não foi batido, e quando saiu de exibição das últimas salas de cinema naquele país, a 1 de outubro de 1998, tinha rendido quase 601 milhões de dólares. Fora de fronteiras, foi muito mais, e o total global foi de 1,8 mil milhões de dólares. Algo só comparável a "E Tudo o Vento Levou" e mesmo assim só contando com a inflação.
James Cameron colheu os louros da vitória e não resistiu, auto-proclamando-se o "rei do mundo" ao receber o Óscar, tal como Leonardo DiCaprio fizera (melhor) no filme. Finalmente vingado, preparou-se para a sua próxima odisseia, que demoraria 12 anos a chegar aos cinemas: chamou-se "Avatar" e seria ainda mais popular do que "Titanic".
Muito se escreveu sobre como tudo foi possível depois de tantas previsões de desastre, mas bastava ir às sessões para perceber: à falta das redes sociais, alastrou o boca a boca de que o filme não era apenas bom, mas espetacular. Também ajudou que 60% dos espectadores fossem mulheres e nascesse uma verdadeira "Leomania": ao fim de cinco semanas, estimava-se que 7% das raparigas adolescentes nos EUA já tinham visto "Titanic" por duas vezes. E o sucesso durou meses porque 20% dos espectadores o foram ver segunda vez e destes, 75% eram mulheres.
Acima de tudo, as pessoas em todo o mundo reagiram da mesma forma às emoções da mais universal das histórias, a de um grande amor. Um romance jovem, breve e condenado a ter um final infeliz entre Jack, um aventureiro a viajar em terceira classe, e Rose, uma rebelde da alta sociedade, com uma grande tragédia em pano de fundo recriada com espantosos efeitos especiais. E a uma escala épica só possível nos grandes sonhos de Hollywood...
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