Por mais vozes femininas que nos tenham conquistado este ano - e houve mesmo muitas -,não é menos certo que o timbre de Tom Waits continua único e as suas canções também. Os Beastie Boys,iguais a si próprios, mostraram que não precisam de mudar e a Justin Vernon bastou sussurrar para se fazer ouvir. A dream team de Jay-Z eKanye West (e colaboradores) completa o lote dos nossos álbuns de eleição, depois de já termosdestacado 10 discos nacionaise 10 concertos de 2011.

Austra - "Feel it Break"

A vaga de revelações vindas do Canadá - à boleia dos Arcade Fire - pode ter acalmado desde inícios do milénio, mas há motivos para continuarmos atentos àquelas paragens. Este ano, os Austra foram um dos melhores, já que o disco de estreia do projeto de Katie Stelmanis deixou alguma da pop eletrónica mais recomendável que temos ouvido. Singles como "Beat and the Pulse" ou "Lose It" deixaram-nos curiosos e esse entusiasmo teve correspondência no alinhamento de "Feel it Break", casa de canções misteriosas mas melódicas, inquietantes mas sedutoras, capazes de conciliar referências (Depeche Mode, Kate Bush, Fever Ray) num depoimento de personalidade. GS

Beastie Boys - "Hot Sauce Committee Part Two"

“Hot Sauce Committee Part Two” estava no forno desde 2009, altura em que Adam "MCA" Yauch anunciou uma pausa nos concertos e gravações devido a um cancro. Adam recuperou e os Beastie Boys voltaram mais velhos, a caminho dos 50, mas ainda a 'nata da nata' do hip hop. Os veteranos regressaram tão originais e experimentais como nos primeiros anos de carreira, com os ingredientes que lhes deram o sucesso: rock e rap à mistura, funk e uns pozinhos de hardcore e punk-rock. Um álbum que não quis apanhar a onda de novas tendências, mas apenas ter os Beastie Boys que ainda têm o direito de lutar por uma boa festa. VM

Björk – "Biophilia"

Não há ninguém como Björk, que tenha tão obstinadamente seguido um percurso individual que a leva facilmente do lirismo à violência, da poesia de E.E. Cummings ao universo delirante do marido, Matthew Barney, ao cinema de Lars Von Trier. Onde havia limites da experiência e da transformação da condição humana em música, a islandesa esteve lá. Em “Biophilia” esse percurso continua. Cada música é uma aplicação, é uma exploração audiovisual e lúdica do conceito que lhe subjaz e ao contrário do que muitas vezes acontece nestes casos, não deixa de ser boa música, Bjork no seu estado mais puro. LS

Bon Iver - "Bon Iver"

Em 2008, o primeiro álbum de Bon Iver – que é na verdade o barbudo Justin Vernon – teve lugar em quase todas as listas de melhores discos desse ano. A fasquia estava alta para um segundo disco, portanto. Justin, que andou entretanto entre concertos e colaborações, não desiludiu. Aliás, foi mais além. No disco “Bon Iver”, gravado numa antiga clínica veterinária, Justin criou 10 temas em que acrescentou textura, contemplação, guitarras elétricas, instrumentos de cordas. Um Bon Iver que não se esgota numa dúzia de audições. A cada tema, a cada escuta, há um novo pormenor para descobrir. E isso vale ouro. VM

Feist - "Metals"

Ao contrário do disco anterior, "The Reminder", composto quase na totalidade enquanto Feist andava em digressão, em "Metals" a cantora e compositora decidiu isolar-se durante um ano e meio.Aqui acanadianaagarra-se ainda mais à guitarra e àquilo que faz dela única, às suas emoções, as suas histórias e as de quem a rodeia, a atenção a uma árvore que dança ou a um mundo que não pára. Feist e a guitarra, Feist e os coros, Feist, a mulher com cara de anjo que é um furacão, Feist e os temas que esperam por ganhar forma com o público à sua frente. Cá a esperamos porque se “Metals” é um dos melhores discos de 2011, o concerto de Feist em Portugal em março pode muito bem ser um dos melhores de 2012. VM

Jay-Z e Kanye West - "Watch the Throne"

"Watch the Throne" é um grande disco, com excelentes músicas e uma dose invejável de singles em potência (até agora, já saíram daqui seis mas há material para mais). Os dois mestres de cerimónias mostram por que são considerados os melhores no hip hop na atualidade e têm também osmais reputadosprodutores a acompanhá-los: Swizz Beatz, Neptunes, Q-Tip e RZA ajudam a que a oferta impressione. Num ano cheio de grandes lançamentos no hip-hop - basta ouvir com atenção os os discos de Drake, Lil Wayne, Common ou Beastie Boys -, este álbum é com certeza um “must have” para os amantes do género. Venha a sequela! EV

Lykke Li - "Wounded Rhymes"

Se Lykke Li já tinha algum culto por cá, "Wounded Rhymes" deixou-nos ainda mais rendidos a esta sueca cujo ar frágil nos parece enganador. Afinal, o seu segundo disco é um exemplo de força e arrojo que, depois de um single perfeito como "I Follow Rivers", confirmou que o encanto do álbum de estreia não foi sorte de principiante. Num ano em que várias mulheres deixaram a sua marca na música, Lykke Li é a nossa candidata favorita a princesinha da indie pop: daquelas irrequietas e imprevisíveis, que tanto condensam toda a tristeza do mundo como saltam para desvarios rítmicos irresistíveis. Com princesas assim, adivinha-se uma descendência segura para a nobre tradição da pop sueca. GS

Marisa Monte - "O que você quer saber de verdade"

Marisa Monte carateriza o seu novo trabalho como «solar, de bem viver e desfrutar a vida», e a partir do primeiro single, "Ainda Bem", ficámos a saber que este é um álbum de um romantismo feliz e não angustiado e triste. Mas nem tudo é felicidade por aqui. Como não poderia deixar de faltar num álbum de Marisa Monte, existem ainda alguns momentos de introspeção e sofrimento amoroso. Estes contrastes de sentimentos, sempre à flor da pele, ficam bem em Marisa Monte, que tem o dom de fazer canções que conseguem comunicar connosco de forma simples e singela, num dos regressos mais bonitos do ano. AB

PJ Harvey - "Let England Shake"

Um regresso de PJ Harvey raramente passa despercebido - a britânica também costuma dar motivos para isso -, mas há muito que um disco seu não tinha o efeito de "Let England Shake". Aliás, arriscaríamos dizer que nunca houve um tão consensual: o Mercury Prize ou o Uncut Music Award são apenas dois exemplos da ótima receção de que o seu décimo álbum foi alvo. Longe da fúria incontida dos primeiros registos, esta reflexão sobre a sua terra natal e as marcas da guerra não é por isso menos assertiva. E se o tom se mostra mais contemplativo do que explosivo, Polly Jean continua disposta a arriscar: dos samples reggae de "Written on the Forehead" aos cânticos árabes de "England", há muito espaço para a surpresa nestas canções. GS

Tom Waits – "Bad as Me"

"Bad As Me" mostra um artista no seu auge, em pleno domínio de uma voz que vai do mais doce ao mais agreste, conduzindo os seus músicos em todas as paisagens da música americana, do rock ao blues ao jazz, com um lirismo, um sentido de humor, uma inteligência que lhe continuam a ser únicos. Descobrimos quase tudo o que há para descobrir sobre a música de Waits num só disco. Estamos na estrada (ou num comboio) nos Estados Unidos em "Chicaco" ou "Face to the Highway", melancólicos e contemporâneos em "Talking at the Same Time", agressivos e sonoros em "Get Lost", românticos em "Kiss Me" ou nostálgicos em "Last Leaf", para já não falar da faixa que dá título ao álbum. LS

Dez não chegam? Pois não... por isso aqui fica mais uma dezena de discos que também guardamos entre as boas surpresas deste ano:

Chico Buarque – "Chico"

Drake - "Take Care"

Foo Fighters - "Wasting Light"

James Blake - "James Blake"

Joan as Police Woman - "The Deep Field"

Ladytron- "Gravity the Seducer"

Machine Head - "Unto the Locust"

Mastodon - "The Hunter"

Nneka – "Soul Is Heavy"

The Strokes - "Angles"

@Alice Barcellos, Edson Vital, Gonçalo Sá, Luís Soares e Vera Moutinho