Entre nomes já bem implementados e outros que para lá caminham, selecionámos uma dezena de álbuns que nos permitem dizer que, apesar da crise,a música portuguesa continua recomendável.
Aldina Duarte - "Contos de Fados" Aos autores que convidou para escreveram para si neste disco, Aldina pediu que se inspirassem em obras literárias. E foi assim que acabámos a ouvir um álbum onde, por exemplo, José Mário Branco se inspira na história de "A Bela Adormecida" e num conto de Hermann Hesse. Num álbum onde canta o desamor e onde é uma espécie de atriz a cada tema, Aldina prova que é uma das fadistas que mais tem “recriado” o fado e em torno dele. Agora que o fado é de todos, sigamos a Aldina, que nos leva pela mão ao que ele tem de melhor. VM | |
Para muitas bandas, o segundo álbum costuma ser motivo para entrarem em depressão, mas os Buraka Som Sistema resolveram enterrar a pressão e celebrar. "Komba" é isso mesmo, celebração do início ao fim, sem deixar de ser um disco um pouco mais negro do que o álbum de estreia. Nada que impeça a festa. "Komba" é um excelente regresso que já provou resultar ainda melhor ao vivo - no imparável concerto no Coliseu dos Recreios -, sempre bastante enérgico, mesmo nas faixas mais lentas. A banda continua a elevar a fasquia dos seus trabalhos, as batidas continuam viciantes, o sucesso tem tudo para continuar. EV | |
Para os Clã, 2011 foi o ano dos supernovos. Para milhares de crianças, o ano em que assistiram pela primeira vez a um concerto, ou não tivesse a banda corrido o país - entre escolas a auditórios - com "Disco Voador". Numa altura em que os tops de vendas acumulam discos infantis que não recomendaríamos nem à criança mais birrenta, o álbum dos Clã surgiu como a luz no fundo do túnel. Tal como as aventuras de Tintim - que passaram pelos cinemas este ano -, "Os Embeiçados", "Asas Delta" e outros hinos mostraram um apelo que vai dos 7 aos 77. Até porque, com canções destas, qualquer um volta a ser supernovo antes de chegar ao refrão. GS | |
Quando "Lisboa Mulata" chegou escrevemos por aqui que “o gato pingado e o gangster” estavam de volta. Regressavam os únicos e inconfundíveis Dead Combo, que é como que diz Tó Trips e Pedro Gonçalves, com um disco com vista para Lisboa, para África e, vá, para o mundo. Canções mestiças com poder de conquista que até lhes valeu um encontro (quase) exclusivo com um dos chefs do momento, Anthony Bourdain. O famoso chef viajante diria qualquer coisa como “fomos feitos uns para os outros”. Mas eles são nossos, o gato e o gangster. E são do melhor da música portuguesa que por aí anda. VM | |
O nome pode estar datado, mas os doismileoito parecem ter vindo para ficar. O que realmente interessa - as canções - mantém em "Pés Frios" o desembaraço da estreia de há dois anos. De então para cá, o trio da Maia tornou-se quarteto e, a julgar pelo que se ouve neste regresso, amadureceu sem perder um saudável olhar jovial. Histórias sobre pais e filhos, amores e morte, férias e até um cão convivem alegremente com melodias orelhudas em que o óbvio não costuma ser a primeira escolha. Mesmo quando as canções se mostram mais convencionais, há um arranjo, uma segunda voz ou uma melodia que nos tira o tapete – e não há como não simpatizar com brincadeiras destas. GS | |
Fausto Bordalo Dias – "Em Busca das Montanhas Azuis" De "Por este rio acima" a "Crónicas da terra ardente" foram doze anos e tivemos de esperar mais dezassete pela conclusão da trilogia que Fausto Bordalo Dias baseou na "Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto. E a música traduz perfeitamente essa aventura, espanto e sedução da descoberta. Não há a limpidez cega dos heróis aqui, mas sim homens comuns, um olhar aberto sobre o mundo, uma voz ainda firme, inteligência e variedade musical, tudo em Fausto nos devolve o encanto que sempre reconhecemos na sua música, levando-nos ainda um pouco mais longe. LS | |
Ao quarto disco, os Mesa continuam a tratar bem a língua e as melodias. "Automático" é mais um passo de uma caminhada por uma pop com identidade, simultaneamente reconhecível e caleidoscópica, acessível e ousada. A balada "Cedo o Meu Lugar" não demorou a conquistar as rádios, mas Mónica Ferraz e João Pedro Coimbra têm outros argumentos a seu favor - de temperos afrobeat a momentos mais elétricos, passando por convites para a pista de dança ou pela ajuda dos convidados Armando Teixeira (Balla) e Filipe Palas (Smix Smox Smux), a dupla portuense sabe como manter-nos interessados. Nada que não soubéssemos já, mas é sempre bom confirmá-lo. GS | |
Com uma guitarra e pouco mais (um piano algures? aqui e ali uma voz, uns efeitos?), Norberto Lobo leva-nos em viagem por toda a música, constrói e desconstrói sons e canções e prova-se uma vez mais um dos mais originais instrumentistas, minto, um dos mais originais músicos portugueses em atividade. A "Pata Lenta" sucedeu este "Fala Mansa" que nos oferece canções sem palavras, alternando entre a energia e a melancolia, num virtuosismo do som, dos dedos sobre as cordas, do ritmo e da melodia. Tudo isto com capacidade para se afirmar num som claramente português e claramente universal. É obra. LS | |
Foram uma das sensações da música portuguesa que explodiu este ano. Partindo do que parecia ser só uma ideia diferente, a famosa bateria gémea, os PAUS construíram um som feito de energia e rock no seu estado mais puro, com um entusiasmo contagiante em palco que se traduziu no sucesso do seu primeiro álbum. As origens não estão esquecidas e o álbum homónimo que viu a luz do dia este ano, depois do EP do ano passado, provou a capacidade para dar um salto para uma sonoridade mais estruturada e desenvolvida, capaz de atrair novos públicos à celebração, sem trair os seus fundamentos originais. LS | |
Sérgio Godinho - "Mútuo Consentimento" Aos 40 anos de carreira, Sérgio Godinho, artesão das palavras, não fez um disco em format best of, com o melhor do que fez até aqui. Lançou um novo disco, doze novos temas, que parecem dizer: “Eu vou a jogo”. "Eu vou a jogo" é, de resto, um dos temas de "Mútuo Consentimento". Uma frase feita lema, que podia definir a própria atitude do cantor e compositor ao longo dos anos perante a vida. E aos 40 anos de discos, cinema, teatro e livros Sérgio Godinho atirou-se para a frente. E só isso mereceria os parabéns e entrada direta na lista dos melhores do ano. VM |
Dez não chegam? Pois não... por isso aqui fica mais uma dezena de discos que também guardamos entre as boas surpresas deste ano:
Dealema – “A Grande Tribulação”
Jorge Palma - "Com Todo o Respeito"
Os Lacraus - "Os Lacraus Encaram o Lobo"
Smix Smox Smux - "Os Gloriosos Smix Smox Smux Derrotarão Os Exércitos Capitalistas"
Tiguana Bibles – “In loving memory of…”
X-Wife – “Infectious Affectional”
@Edson Vital, Gonçalo Sá, Luís Soares e Vera Moutinho
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