“Interregno profissional involuntário”: é nestes termos que Rubim Barbosa se refere à sua situação de desempregado, no meio de uma conversa com a agência Lusa a propósito do lançamento do seu disco, editado em nome próprio. E não usa essa situação, que se mantém há dois anos, como uma bandeira, mas só para explicar que irá tirar partido da edição do disco, “seja como realização pessoal, seja do ponto de vista financeiro, como é humano”.

Mas, logo à partida, acha que com o disco, que foi recentemente lançado em concerto no Teatro Campo Alegre, no Porto, “mais de 50% do objetivo foi cumprido”, ou seja, “gravar e editar o disco e o ter a possibilidade de conviver e tocar com músicos de nível”.

Na origem do disco estão músicas que Rubim tinha gravado há mais de 20 anos numa disquete. A disquete funcionava num teclado eletrónico que ele tinha vendido a um amigo. “Esse amigo, anos mais tarde, volta a vender-me o teclado. Eu tinha a disquete e voltei a metê-la no teclado. E vieram ao de cima todas as músicas que eu tinha feito”, explica.

Ato contínuo, disse à mulher: “A vida é tão curta e eu gostava imenso de fazer um trabalho meu, é um sonho que tenho”. Ela respondeu-lhe: "Mais vale um gosto na vida do que o dinheiro no banco. Vamos para a frente”. E assim foi.

A sua ligação à música vem de muito cedo, sempre como autodidata até que, aos 26 anos, “com idade para ter juízo”, foi para uma escola de música no Porto, que frequentou durante oito anos, mas que não terminou devido às exigências da sua atividade profissional, ligada à indústria farmacêutica.

Para o seu disco “Incursões” contou com várias ajudas inesperadas. Uma foi a do “mestre” Carlos Tê, junto de quem foi verificar se as letras “cumpriam os mínimos olímpicos”. Também contou com a ajuda de outros músicos, a quem pediu para lhe indicarem um aluno para tocar com ele e que acabaram por se oferecer para participar nas gravações e nos concertos.

Na busca de vocalistas para interpretarem os seus temas, deparou com muitas recusas. A ajuda acabaria por chegar da Galiza, de Uxia, “que teve uma atitude incrível” e com quem criou alguma cumplicidade até porque o tema “No rio Minho” falava às origens da cantora.

“O menino nasceu e está aí”, diz Rubim, que acrescenta que aos 49 anos já não tem “idade para acreditar no Pai Natal”. O disco foi um projeto caro, mas também “se não tivesse a música, ia ser muito mais complicado” para lidar com o desemprego. “Tenho os pés bem assentes na terra. Percebo que singrar na música, num mercado como Portugal, é bem difícil. Singrar a partir do zero, um tipo como eu, ainda é mais difícil. E se a estes dois pressupostos associarmos o facto de termos a conjuntura económica que temos, ainda se torna mais difícil”, conclui Rubim.

@Lusa