As dez novas canções dos rapazes que se juntaram para meter as raparigas a dançar chegam quatro anos depois de um "difícil" terceiro álbum ("Tonight: Franz Ferdinand", mais eletrónico e habitualmente menos aplaudido do que os antecessores) e quase dez após um ilustre disco de estreia (o registo homónimo, de 2004, um dos melhores de inícios do milénio quando o assunto é atirar guitarras para a pista de dança).
Ao longo desse tempo, e apesar da vertente conceptual e sintética da terceira aventura, pouco parece ter mudado na música do quarteto de Glasgow, nunca muito interessado em renovações de tendências e fielmente abraçado à matriz pós-punk que funcionou tão bem à primeira. Tão bem, tão bem que, além de serem descendentes diretos desse template, os discos seguintes nunca conseguiram repetir o feito de uma estreia com sabor a best of.
"Right Thoughts, Right Words, Right Action" também não atinge esse patamar de excelência mais pop do que punk, mas pelo menos não desilude. E se talvez fosse legítimo esperar um pouco mais depois de quatro anos de interregno - durante os quais Alex Kapranos produziu os Citizens ou RM Hubert e o guitarrista Nick McCarthy gravou com os Box Codax -, estes 35 minutos tão vitaminados e despachados quase fazem esquecer a estagnação.
Videoclip de "Love Illumination":
Charme ao máximo e uma secção rítmica capaz de fazer faísca não são qualidades de se deitar fora, sobretudo quando tantos militantes (quase todos?) da revisitação do pós-punk são hoje uma memória remota ou uma realidade moribunda. Face a alguns desses, os Franz Ferdinand sempre tiveram a vantagem de não se levarem muito a sério e mesmo quando abordaram angústias escolheram quase sempre a entrega à dança como consolo. "Right Thoughts, Right Words, Right Action" não peca, por isso, por sobrepor o estilo à substância, mas por uma certa rigidez na composição e alguma pretensão arty de letras demasiado auto-conscientes (ainda assim, preferíveis a tentativas exacerbadas de profundidade de uns quantos companheiros de percurso).
Recrutando Joe Goddard, dos Hot Chip, Björn Yttling, dos Peter Björn & John, e Todd Terje para a arte final destas novas canções, o grupo definiu um alinhamento com variações de pormenor (o grito inaugural da paranóica "Evil Eye", a espiral de teclados a rematar "Treason! Animals") que nunca comprometem um conjunto marcado pela familiaridade.
O travo Franz Ferdinand clássico nota-se sobretudo nos singles, os escorreitos "Right Action" e "Love Illumination" (mesmo com o solo de guitarra hard rock). Depois, o disparo condensado de "Bullet" antevê explosões ao vivo, "The Universe Expanded" mostra que os rapazes também sabem ser melancólicos (no caso, através de um romance sci-fi com rewind cronológico e emocional) e "Brief Encounters" é hedonismo brit de olho nos Blur. Mas se há canção que teria livre trânsito no alinhamento do álbum de estreia é "Stand on the Horizon", tratado de pop sumptuosa com fulgor disco nascido de uma conjugação impecável do baixo, das cordas ou das harmonias vocais. E ao ouvirmos que os Franz Ferdinand ainda são capazes do melhor, nesse tema, não conseguimos ficar completamente satisfeitos com "Right Thoughts, Right Words, Right Action", um regresso mais estimável do que tantos outros, sim senhor, mas também mais certinho do que certeiro.
@Gonçalo Sá
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