Quando foi editado, no ano 2000, “The Marshall Mathers LP”, trouxe com ele singles como “Stan”, “The Way I Am” ou “The Real Slim Shady”, que se tornaram em verdadeiros clássicos da marca Eminem: a agressividade, o storytelling, a ironia e um ataque constante à indústria que abraçava o rapper. Algumas destas características, que distinguiam Eminem de outros nomes do hip-hop, estiveram ausentes nos seus álbuns mais recentes, sobretudo em “Relapse” (2009) - que até Eminem reconheceu ter ficado abaixo das expectativas. Mas com “Recovery” (2010), focado na sua luta contra a dependência de drogas, o rapper recuperou alguma da força inicial e até chegou a ganhar o Grammy de Melhor Álbum Rap do Ano.

“MMLP2” vinha rodeado de expectativas, já que muitos previam que algumas das histórias contadas em “The Marshall Mathers LP” teriam sequência neste disco. No entanto, Eminem foi o primeiro a querer distanciar-se da ideia de sequela e “MMLP2” traduz mais um estado de espírito do que uma tentativa de replicar o que já foi feito. Mas é esse estado de espírito que nos permite encontrar semelhanças entre o Eminem de 2000 e o Eminem de 2013. “I’m going back to what got me here/ Yeah cocky, and can’t knock being rude off”, dispara o MC em “Asshole”.
Voltamos a deparar-nos com problemas familiares, vários ataques ao pai e à mãe, vários insultos a mulheres e homossexuais - e por isso lá voltaram, também, várias críticas de grupos feministas e contra a homofobia. Eminem volta a ser gozão, a não poupar na misoginia e no preconceito e a não deixar o público indiferente. O rapper mostra-se mais agressivo do que em muitos anos, usando e abusando da ironia, contra tudo e contra todos e até contra si próprio, como podemos ouvir em “EvilTwin”: “I'm frustrated cause ain't no more N'Sync, now I'm all out of whack/ I'm all out of Backstreet Boys to call out and attack”.

Videoclip de "Berzerk":

O disco abre com “Bad Guy”, a continuação do clássico “Stan”: aqui Matthew procura vingar-se de Eminem pela morte do seu irmão, Stan. Esta é talvez a relação mais óbvia entre “MMLP2” e o álbum de 2000 - e algumas frases da canção até podem ser associadas a um ódio antigo de Eminem, a sua ex-namorada Kim. Mais uma vez, “Em” mostra uma grande capacidade de contar histórias, revelando pormenores visuais, quase cinematográficos, que nos atiram para o meio da ação.
Eminem não só escreveu as rimas deste álbum mas produziu também algumas faixas, como “Asshole”, que conta com a participação da cantora Skylar Grey. Aqui o rapper canta sobre o que passou para ter a fama que tem: “But you can't ignore the fact that I fought/ For the respect/ And battle for it, mad awards/ Had GLAAD annoyed”.

Rick Rubin surge como produtor executivo, ao lado de Dr. Dre, e entregou ainda três beats, entre eles os de “Berzerk” e “Love Game”. “Berzerk” é um dos singles, o mais old school, e leva-nos aos primeiros dias dos Beastie Boys. “Love Game” tem como convidado Kendrick Lamar, um dos melhores rappers da nova geração. Esta participação era das mais esperadas e os dois MCs apresentam flows versáteis, passado do lento para o rápido e com várias estruturas de rimas.
Outro nome em destaque é Rihanna, no single “Monster”, reeditando a colaboração de sucesso da dupla em “Love The Way You Lie”. Desta vez o tema não é tão forte, mas não deverá falhar o alvo: as playlists radiofónicas, ou não fosse dos temas mais orelhudos.

Perto do final, “MMLP2” apresenta-nos uma surpresa: Eminem escreve uma canção a pedir desculpa à mãe e justifica-se por tudo o que disse contra ela. “All you did, all you said, you did your best to raise us both/ Foster care, that cross you bare, few may be as heavy as yours/ But I love you Debbie Mathers, oh what a tangled web we have cause”, canta em “Headlights”, faixa que tem no refrão o vocalist dos Fun, Nate Ruess.
Até essa dedicatória, “MMLP2” nem sempre é tão surpreendente mas tem muitos momentos a reter. Felizmente, voltamos a encontrar aqui o melhor Eminem: rimas criativas, canções com personalidade, bastante humor negro e alguma controvérsia - que compensam a sensação de que o disco é muito longo e às vezes deve demasiado aos anteriores. Mas acima de tudo, “MMLP2” deixa-nos a ideia de que Eminem não cresce - e gostamos disso.

@Edson Vital