No contexto pop atual, quatro anos podem ser uma eternidade. E quando esse é o tempo que uma banda demora a editar um segundo disco, o desinteresse generalizado arrisca-se a ser difícil de contrariar. É verdade que muitos ainda não se esqueceram de singles como "That's Not My Name", "Great DJ" ou "Shut Up and Let Me Go", que catapultaram os Ting Tings para as rádios, MTV, anúncios publicitários ou ringtones em 2008. Já o álbum que os revelou, "We Started Nothing", estará menos presente na memória coletiva e foi um primeiro passo que por pouco não se tornou também no último. Mas não, afinal "Sounds from Nowheresville" acabou por ver a luz do dia mesmo que confirme, como poucos nos últimos tempos, a maldição do "difícil segundo disco".
Originalmente apontado para 2010 com o título "Kunst", este regresso, gravado em Berlim e de contornos eletrónicos, foi então abandonado pela banda, que considerou as canções demasiado parecidas com a pop dançável de inspiração europeia que tem dominado as rádios. Katie White e Jules de Martino optaram por deixar de lado grande parte desse material e voltar ao processo de composição, por muito que a editora não gostasse da ideia. Gesto corajoso? Capricho de artista? Seja como for, a falta de confiança nessas canções resultou num disco que embora se afaste, de facto, do tipo de produção de muita pop atual, não oferece argumentos especialmente aliciantes.
Os singles já não moram aqui
"We Started Nothing" podia não ser um álbum excecional, mas propunha uma coleção promissora de canções diretas, orelhudas, quase todas com potencial para single. "Sounds from Nowheresville", mesmo que longe de hermético, acaba por parecer mais uma compilação de lados B, tanto pela dispersão de géneros como por uma sensibilidade pop menos certeira. Se a ideia era apostar num disco em modo shuffle, à medida do MP3, então essa falta de unidade teria de ser compensada por um cardápio mais exigente. Em vez disso, os Ting Tings de 2012 parecem inspirar-se nos momentos mais mornos dos No Doubt ou de Santigold, com uma mistura de new wave, ska, funk, reggae ou rock tão correta como impessoal.
Quando testam as baladas, na reta final do alinhamento, são ainda menos convincentes, deixando-nos canções inofensivas que fazem perguntar porque é que "Hands", single que editaram depois do álbum anterior, ficou de fora de "Sounds from Nowheresville" (surge apenas entre as faixas extra e remisturas da edição especial). Como esse tema sugeriu, só quando regressam a terrenos eletrónicos é que os Ting Tings se mostram mais confortáveis - o melhor exemplo será "One by One", um dos poucos momentos a que vale a pena voltar. Será que ainda vão a tempo de resgatar o tal álbum electro que ficou a meio caminho? É que este nem a memória do iPod deverá guardar por muito tempo...
Videoclip de "Hang It Up":
Videoclip de "Hands":
Videoclip de "That's Not My Name":
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