Fez parte do top 5 da lista de apostas da BBC para 2011 e tem entre os fãs gente como Gilles Petterson ou Burial, nomes fortes da música de dança mais aclamada. Depois de editar um EP relativamente discreto em 2007, "Wayfaring Stranger", Jamie Woon conquistou mais atenções nos últimos meses com os singles "Night Air" e "Lady Luck", canções que expunham um interesse pela soul e R&B mas também por arquitecturas rítmicas próximas do dubstep ou do UK garage.
Além do cruzamento de géneros, a sua voz quente e segura, expressiva sem ser exibicionista, também contribuiu para o atirar para a selecção de esperanças britânicas, muitas vezes vasta embora nem sempre certeira.
"Mirrorwriting", oaguardado álbum do cantor, compositor e produtor de 28 anos não trai a impressão deixada pelos singles, mantendo os horizontes sonoros então sugeridos e propondo novas alianças entre traços da electrónica marginal q.b. e da pop de apelo mais vasto.
Alternando entre ambientes orgânicos e sintéticos, o alinhamento oferece um conjunto de canções introspectivas que dão espaço à voz, instrumento que se sobrepõe quase sempre à presença do piano, cordas, guitarra, coros ou programações. O resultado é, assim, menos experimental e hermético do que o que se ouviu recentemente no álbum homónimo de James Blake - nome habitualmente associado -, ainda que partilhe do seu minimalismo e aura nocturna.
Os dois lados do espelho
O melhor de "Mirrorwriting" surge logo ao início, juntando aos singles temas igualmente inspirados como "Street" ou "Shoulda", onde Jamie Woon se mostra um crooner sóbrio e sedutor.
Já a meio do alinhamento o disco revela os desequilíbrios de muitas estreias, deixando faixas com tanto de acolhedor como de morno. Nesta vertente mais polida, o álbum torna-se candidato a música de fundo para jantares caseiros, incapaz de incomodar os ouvidos mas também sem qualquer atrevimento que justifique a interrupção de uma conversa para dar atenção às canções.
Em vez do desafio sugerido pelos momentos iniciais, aqui o resultado soa a uma derivação de Craig David ou da vertente mais acomodada de Seal, o que está longe de confirmar as melhores expectativas em torno de Jamie Woon.
Bem mais arrojada, a remistura de Burial para "Wayfaring Stranger" dá à canção uma carga sinuosa que não ficaria nada mal noutros episódios do alinhamento. Claro que, caso seguisse por essa via, "Mirrorwriting" não seria um disco tão acessível. Ouvindo-o do princípio ao fim, a sensação que fica é a de uma voz hesitante entre o risco e a ligeireza. Independentemente da eventual decisão, Jamie Woon parece ter vindo para ficar e, por agora, a sua companhia nunca é menos do que agradável.
"Mirrorwriting" pode ouvir-se na íntegra no Musicbox.
Videoclip de "Night Air":
Videoclip de "Lady Luck":
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