Justin Timberlake exilou-se no cinema e em alguns “pequenos” negócios (da moda ao golfe) durante sete anos, por isso os discos em nome próprio não pareciam fazer parte dos planos do novo menino bonito de Hollywood. Até que, de repente, eis que começaram a surgir alguns rumores de que o cantor estaria em estúdio, com Timbaland, e bastou apenas um pequeno teaser, no inicio de 2013, para deixar toda a indústria musical em rebuliço. Como seria de prever, as coisas para o salvador da pop não são feitas ao acaso: os timings têm sido perfeitos, “The 20/20 Experience” já está nas lojas e também já foi prometido um segundo volume ainda para este ano.

Sem querer arriscar muito, Timberlake trouxe para o seu lado o parceiro que mais sucessos lhe deu, Timbaland, e o resultado é que, uma vez mais, a sua música não pode ser separada do talento do produtor.

Quando pegamos em “The 20/20 Experience” e reparamos que tem dez faixas com um total de 70 minutos, apercebemo-nos, mesmo antes de ouvirmos o disco, de que há mais do que o que os olhos podem ver. Sete das dez músicas do disco alongam-se por mais de sete minutos. Justin repete uma fórmula que usou em “Future Sex/Love Sounds” (2006), em temas como "LoveStoned/I Think She Knows (Interlude)" e "What Goes Around.../...Comes Around (Interlude)", em que as canções se parecem dividir em duas partes. No final do álbum fica a sensação de que ouvimos bem mais do que uma dezena de temas.

Vidoeclip de "Suit & Tie" (com Jay-Z):

Concluída a primeira audição, a ideia saliente é de que as expectativas colocadas eram muito altas - e que o disco fica aquém do que era esperado. Todavia, é numa segunda escuta que se torna claro o grande potencial que “The 20/20 Experience” esconde.

O disco abre com “Pusher Love Girl”, onde Timberlake compara a sua inspiração feminina a nicotina, a cocaína, entre outros psicotrópicos. “Suit & Tie” traz o único convidado do disco, Jay-Z, numa faixa cheia de groove com cheirinho a Marvin Gaye.

“Don’t Hold the Wall” é dos temas mais interessantes, bem ao jeito de Timbaland, e que poderá até ser um dos singles, sendo aqui de destacar um excelente trabalho de vozes e de samples.

Segue-se “Strawberry Bubblegum”, uma canção que reflete as características comuns às letras que marcam este disco. Aqui vemos um Justin apaixonado (na verdade tem motivos para isso, pois casou-se, no final de 2012, com Jessica Biel), bastante repetitivo, e com algumas metáforas simples. A verdade é que as melhores canções de amor nascem de um coração partido e não de um coração feliz. Mesmo assim, é um daqueles “temas mola” que têm a capacidade de imediatamente colocar a dançar quem o escuta.

Videoclip de "Mirrors":

“Spaceship Coupe” é quase uma viagem intergalática ao amor. Com uma sonoridade muito Funkadelic, é uma daquelas faixas que rapidamente nos prendem. “That Girl” resgata a soul feita nos anos 1970 e conta com um sample bem metido de "Self Destruct", do jamaicano King Sporty.

“Let The Groove In” é, de longe, a faixa mais fraca do disco, com uma mistura afro-cubana que se torna bastante redundante, lírica e musicalmente. Mas a um ponto mais negativo juntou-se outro positivo, “Mirrors”, o segundo single do disco e um excelente tema - Justin terá afirmado que foi inspirado na sua esposa e dedicou o videoclip aos avós.

A fechar temos “Blue Ocean Floor”, uma faixa em que o instrumental está todo em reverse e é perfeito para encerrar o disco. É talvez a música mais experimental do álbum e seguramente a mais contemplativa.

Para muitos as expectativas em relação a “The 20/20 Experience” eram elevadas, uma vez que o antecessor tinha sido o aclamado “Future Sex/Love Sounds”. Não podemos dizer que Timberlake repetiu a perfeição desse álbum de 2006, mas também não desiludiu - e no panorama pop atual, isso já não é pouco. “20/20 Experience” é um bom disco com grandes ideias e um potencial ainda maior. Resta-nos esperar que o volume dois nos traga, finalmente, um Justin pronto a usar a coroa de rei da pop que quase todos lhe queremos colocar.

@Edson Vital