Depois do temático «Night Eternal» de 2008, os Moonspell regressaram mais pragmáticos na composição do seu novo trabalho. Com mais espaço para os riffs de Ricardo Amorim, e com a secção rítmica ao cargo do «espalha brasas» Mike Gaspar, «Alpha Noir» apresenta-se como um excelente conjunto de canções que vivem independentemente umas das outras.
Se no início tudo era escuridão, a faixa «Axis Mundi» enclausura a luz para o arranque do álbum, num rosnar visceral acompanhado por um dos melhores riffs de guitarra de sempre dos Moonspell. A voz cavernosa de Fernando Ribeiro assume-se mais uma vez como um uivo do líder da alcateia num grande momento para o Metal português.
Em «Lickanthrope» somos remetidos naturalmente para o imaginário de «Full Moon Madness», do álbum «Irreligious» de 1996, mas sem os traços góticos e soturnos. Sob uma textura densa de Black/Death Metal, a influência da Lua no Homem é explorada num cenário recheado de elementos dionisíacos e figuras mitológicas.
No centro do álbum está uma das maiores pérolas, quando Fernando Ribeiro vocifera «Sou sangue do teu sangue. Sou Luz que se expande» num tema denominado «Em nome do Medo». O orgulho lusitano dos Moonspell foi sempre uma constante, com a inclusão de elementos da língua materna nas composições, mas nunca uma canção do quinteto havia conseguido reunir tão naturalmente a poesia portuguesa com um género tão extremo como o Metal.
«Versus», «Opera Carne» e «Love is Blasphemy» mantêm uma certa coerência à expansão da escuridão que culmina com «Sine Missione», uma orquestração cinematográfica que adensa o vazio da ausência de luz para o gémeo de «Alpha Noir», o álbum escondido «Omega White».
Em «Omega White», os Moonspell mostram a sua versatilidade enquanto músicos, com a voz de Fernando Ribeiro a explorar ambientes mais intimistas e góticos onde os teclados voltam a ter um lugar de grande destaque. A memória de Peter Steele dos Type O Negativo é invocada num tributo a várias influências da banda.
Embora as composições de «Omega White»sejam diametralmente opostas ao seu irmão negro «Alpha Noir», a banda mostra que a diversidade dos seus frutos vem de uma árvore com muitas raízes.
@Eduardo Santiago
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