Depois de triunfos como esses, é quase certo que o novíssimo “Koi no Yokan” será visto como outro dos melhores títulos de uma banda que só sabe tratar bem as canções, os discos e os fãs. Este LP continua bruto e cru como “Diamond Eyes”, cheio de riffs musculados de Stephen Carpenter (guitarrista), mas com um Sergio Vega (baixista) cada vez mais presente (aqui já participou na composição) e um Chino Moreno que não para de surpreender na versatilidade vocal. Os Deftones novos lembram os Deftones velhos, mas soam ainda melhor.

Lyric video de «Tempest»:

Carregado de dinâmica, este “Koi no Yokan” é caracterizado por ambientes densos cujas hostilidades começam com “Swerve City”, tema que tem tanto de tempestuoso como de melódico, com um arranque em que a voz harmoniosa de Moreno se destaca até chegar a um refrão musculado e intenso. Aqui, logo na abertura deste novo disco, os Deftones definem até onde querem ir com esta premonição.

“Romantic Dreams” está cheio de dinâmicas e a já referida versatilidade de Moreno conhece um dos melhores momentos. Desde acessos mais melódicos, passando por gritos, Chino faz de tudo. Frank Delgado (sintetizadores e samples) tem um papel importante ao encher a música, vincando as mudanças de ambientes que a faixa propõe. Resultado: rapidamente damos por nós a cantar versos como “I wish this night would never end”.

“Leathers” é o primeiro single do disco, onde Carpenter nos traz os seus riffs crus, que tanto louvor receberam em “Diamond Eyes”. Com um início fantasmagórico, depressa se solta uma carga de energia que nos leva até à faixa seguinte, “Poltergeist”. Aqui a guitarra, o baixo e a bateria groovam de uma forma furiosa, lembrando algumas músicas mais antigas do grupo. Movendo-se como um animal selvagem enfurecido, “Poltergeist” termina com a mesma intensidade com que começou.

“Entombed” vem acalmar um pouco o ambiente, mas sem reduzir a força. Os teclados e os riffs pintam o cenário e permitem que a voz de Moreno volte a brilhar. A canção funciona quase como um círculo, graças ao loop da guitarra de Carpenter.

Segue-se “Graphic Nature”, que traz de volta os jogos de guitarras e a bateria eletrizante. Deftones no seu melhor.

“Tempest”
é o segundo single do álbum e isso nota-se: é uma das canções mais melódicas, perfeita para tocar nas rádios (ou, pelo menos, naquelas que ainda prestarem atenção à banda).

Também entre os momentos mais acessíveis, “Gauze” é uma canção bastante dinâmica, que nos dá vontade de dançar, enquanto que os sete minutos de “Rosemary” remetem-nos para “Sex Tape”, de “Diamond Eyes”. Uma excelente maneira de nos aproximarmos do final do disco. É uma música muito bem trabalhada, que reflete um pouco as várias camadas de sonoridades que encontramos ao longo de “Koi no Yokan”.

“Goon Squad” começa com a calma com que terminou “Rosemary”, mas como a bonança com os Deftones não dura para sempre, eis que chega a tempestade - logo em forma de uma malha musculada, acompanhada de uma voz aguerrida, mostrando que os Deftones não querem de maneira nenhuma que este disco perca peso.

“What happened to you?” é o tema que fecha esta senda da banda. O baixo e a bateria demonstram bastante cumplicidade e Chino entrega-se à música como só ele sabe, cantando “the sky belongs to you”. A escolha perfeita para encerrar “Koi no Yokan”.

Depois de um alinhamento deste calibre, é muito difícil não rendermos a “Koi no Yokan”, nova fase de um amor que professamos desde 1996 (“Adrenaline”), que levantámos como bandeira em 2000 (“White Pony”) e que agora, mais do que nunca, reafirmamos num regresso que não vive das glórias do passado. “Koi no Yokan” é uma tempestade perfeita, a mistura mais precisa entre o delicado e o bruto, um disco sem momentos perdidos. Se “White Pony” nos deu a conhecer o metal-alternativo-sofisticado, “Koi no Yokan” atira-nos, do princípio ao fim, para toda a beleza do furacão Deftones.

@Edson Vital