Formaram-se há mais de trinta anos e, embora a sua carreira tenha conhecido altos e baixos - tanto a nível de sucesso crítico como comercial -, os Duran Duran nunca interromperam um percurso sempre com ligação directa à pop.

É certo que nunca voltaram a ter um contexto tão favorável como o que os acolheu, logo aos primeiros anos, com "Rio" (1982), álbum (e single) indissociável de muitas adolescências, mas nem por isso deixaram de cruzar guitarras e electrónica - com dramatismo e hedonismo q.b. - em busca do refrão certeiro.

Nos últimos anos, essa procura resultou, por vezes, em canções com sabor requentado - como o atestam "Pop Trash" (2000) ou "Astronaut" (2004), álbuns que deixaram poucas marcas na discografia dos Duran Duran. Mais desafiante, a produção de Timbaland em "Red Carpet Massacre" (2007) trouxe outra cobertura às composições, ainda que a banda não se tenha mostrado especialmente satisfeita com o resultado.

Para "All You Need is Now" recrutaram outro nome forte da produção mainstream do momento: Mark Ronson, fã confesso do grupo. E desta parceria saiu o conjunto de canções mais forte dos Duran Duran em muitos anos, sendo também um dos melhores trabalhos de produção de Ronson - dando assim mais brilho a um currículo que inclui colaborações com Amy Winehouse, Kaiser Chiefs ou Lily Allen.

"All You Need is Now": um regresso e um reencontro

Numa altura em que o pós-punk está no ADN de tantas bandas recentes - nem sempre de forma muito criativa -, um álbum como "All You Need is Now" prova que, nas mãos certas, a receita ainda pode funcionar. Dispendando rupturas e mantendo o formato clássico da canção - como quase sempre nos Duran Duran -, o disco consegue ser revitalizante sem se afastar muito das coordenadas lançadas por "Rio".

"All You Need is Now" foi originalmente lançado através do iTunes, em Dezembro do ano passado, e conta com uma versão revista e aumentada na edição física que chegou agora às lojas.
A faixa-título, que é também a que abre o alinhamento, não será dos melhores argumentos a favor do disco, mas ao segundo tema, "Blame the Machines", estão já presentes todas as vitaminas pop dos Duran Duran.
"Girl Panic!", "Being Followed" e sobretudo "Too Bad You're So Beautiful" são outros portentos com potencial para playlists e pistas de dança, digeríveis - e contagiantes - à primeira audição.
"Leave a Light On" mostra aos Killers ou aos Hurts comodesenhar uma balada exímia e em "The Man Who Stole a Leopard", outro tema mais calmo, Kelis assinala uma participação especial, mesmo que demasiado discreta. Mais evidente, Ana Matronic, a outra voz convidada, reforça o embalo rítmico de "Safe (In the Heat of the Moment)", e em vez das suas canções com os Scissor Sisters lembra a provocação de uns Deee-Lite ou de umas Luscious Jackson de inícios dos anos 90.

Embora seja um disco coeso, "All You Need is Now" dificilmente agradará a quem nunca se sentiu seduzido pelas canções de Simon LeBon, Nick Rhodes e companhia, até porque não traz grandes acréscimos ao universo dos Duran Duran. Os curiosos e apreciadores, contudo, têm aqui uma das ementas pop mais suculentas do ano, reencontrando uma banda que também parece ter reencontrado o seu som.

@Gonçalo Sá

Versão ao vivo de "Being Followed" (realização de David Lynch):

Versão ao vivo de "The Man Who Stole a Leopard", com Kelis (realização de David Lynch):

Videoclip de "All You Need is Now":