Este artigo tem mais de 12 anos
Com o primeiro álbum, homónimo, os Salto provam que a sua qualidade não se esgotou nos singles que já muitos trauteavam com frequência. A genica e frescura imprimidas por Guilherme Ribeiro e Luís Montenegro deixam o disco bem colocado na corrida para a melhor banda sonora deste verão. A pop que a dupla assume desde logo ter influências de New Order ou Pet Shop Boys (evidentes) é viciante. As letras, diretas mas agradavelmente imprevisíveis, são apenas um bom tempero sobre os jogos eletrónicos que nos obrigam a dançar. Lançado no início de julho, veio mesmo a tempo. As doze faixas reúnem o trabalho produzido desde 2007, altura em que nenhum dos dois músicos tinha idade para ter juízo. Passaram cinco anos, uma adolescência e uma licenciatura em música: estão achadas as razões para que “Salto” aponte em tantas direções; heterogeneidade que impede que nos fartemos e, melhor, um sinal de que há muito caminho que a banda se propõe desbravar. Sendo o primeiro álbum, não lhe falta uma dose carregada de experimentalismo. O exame mais difícil terá sido conseguir apresentar, com tanta diversidade, um álbum coeso. Passaram-no com boa nota. Resta saber se isso se aprende a ler as sebentas... “Deixar Cair”, “Por Ti Demais” (os dois singles), “Poema de Ninguém” e “Não Vês Futebol” revelam uma maturidade incrível. As letras sobre o desencontro e as desilusões amorosas revestidas por uma batida risonha são um misto bem interessante – e raro por cá. A velocidade que acompanha os versos “Não vou mais ficar atrás de quem não quer ver” deve ser a mesma com que Guilherme e Luís ultrapassaram as más experiências que agora narram sem lamechices. A toada mantém-se com “Nem ouves rock n’ rol e sabe a pouco a tua simpatia”, de “Não vês futebol”: as miúdas da faculdade não devem ter dado tréguas. A fórmula resultou. Precisam de muito cuidado para não se tornarem repetitivos. Com “Arcade”, sem voz, chegam os desvarios computadorizados, a fazer lembrar a música de fundo dos jogos de consola do baú. “888:888” segue-lhe o rasto. “Arcade” bem que se assemelha à longínqua “Woodpeckers From Space”. Falhas a apontar poderiam ser a insistência nos loops e repetição exaustiva dos refrãos. Mas porquê, se se entranham de tal forma no ouvido e somos apanhados a cantarolá-los numa esplanada de fim de tarde? Exemplo disso é a teimosa de “Coração Bate Fora”, cujo sentido não se deslinda com eficácia mas que já provou, no concerto no Super Bock Super Rock deste ano, ser das mais bem-amadas. O álbum fala uma língua que a malta nova sabe de cor. Vai buscar o melhor da pop do tempo dos nossos pais, está carregado de electrónica que nos seduz (e não precisamos de a ir sempre buscar lá fora) e fala de amor com descompressão. Dá uma lição de como digerir a frustração. E passa a correr.<
@Pedro Pereira
Videoclip de "Deixa Cair":
Comentários