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"Oceania" não é tanto o regresso dos Smashing Pumpkins aos anos noventa, mas antes aos grandes discos. Billy Corgan prometeu que este seria o melhor trabalho da banda dos últimos 15 anos... e cumpriu, num álbum muito acima das nossas expectativas. Depois da desilusão que “Zeitgeist” (2007) foi tanto para a crítica como para muitos dos fãs da banda, Billy Corgan defendeu que o formato álbum estava condenado. Em 2009, o fundador dos Smashing Pumpkins apresentava o projeto conceptual “Teargarden by Kaleidyscope”, no qual o grupo iria lançar 44 canções inspiradas no tarot, em forma de EPs. É dentro de “Teargarden by Kaleidyscope” que “Oceania” está inserido. O novo longa duração da banda surge assim como uma peça dentro de um conceito megalómano - bem ao estilo de Corgan -, mas não deixa de ser um álbum. Uma contradição face ao que o músico havia dito? Não necessariamente: "Continuo a acreditar no meu ponto de vista, não acho que os álbuns sejam relevantes nos dias de hoje. Isso poderá mudar. Mas no que toca a criar música, do ponto de vista da composição, vou continuar a juntar um conjunto de canções que façam sentido juntas”. Passemos ao tal álbum, então. “Oceania” abre da melhor maneira, com “Quasar”, canção de rock psicadélico que faz lembrar os Led Zeppelin e traz um convite para a entrada nesta viagem: "Girl, ride on/ Krishna, ride on/ Ma, ride on”, canta Corgan no seu tom de voz característico. “Panopticon” segue no mesmo ritmo, com bons riffs de guitarra e uma secção rítmica bastante sólida - duas das marcas que tanto sucesso deram aos Smashing Pumpkins. “The Celestials” surge logo de seguida: uma guitarra acústica e a voz de Corgan chegam, muitas vezes, para criar um grande tema. Mas há mais quando toda a banda entra em peso e acrescenta guitarras poderosas, a força do baixo e da bateria e a companhia dos teclados. E por falar na secção rítmica, em “Violet Rays” somos mesmo obrigados a mencionar o excelente trabalho de Nicole Fiorentino (baixo) e Mike Byrne (bateria): sim, esta é uma banda diferente daquela pela qual nos apaixonámos na adolescência, mas aqui a paixão renasce. “My Love is Winter” é quase uma viagem de regresso a “Mellon Collie and the infinite Sadness” (1995), com um refrão muito bem conseguido. Depois da explosão, o disco propõe aqui uma bela balada rock cujo unico ponto negativo é o sintetizador, dispensável e repetitivo. Os dois temas que se seguem não impressionam: “One Diamond, One Heart” e “Pinwheels” descaracterizam o disco, com momentos mais pop que parecem importações da discografia dos Coldplay. Se por momentos parece que se perdeu a rota nesta viagem, o alinhamento ganha novo fôlego com “Oceania”, a canção que dá nome ao álbum. Diga-se que merece ser a faixa título: aqui os Smashing Pumpkins apresentam-se em modo épico, num tema de quase nove minutos que passa por diferentes texturas e é, claramente, um dos melhores momentos do disco. Corgan continua a mostrar a sua habilidade para construir canções em “The Chimera”, “Glissandra” e “Inkless”, que nos fazem querer acompanhar a reta final do álbum (“Pale Horse”, contudo, mostra que ainda há alguma palha no meio de muita coisa a reter). “Oceania” fecha com “Wildflowers”, talvez a melhor maneira de terminar esta viagem, num momento em que Corgan repete, de forma suave, “Wasted along the way to reach you”. As várias camadas de sintetizadores cruzam-se com a voz que parece fazer o convite para que cantemos também. Recorde-se que os Smashing Pumpkins estiveram em Portugal há poucas semanas, no Rock in Rio-Lisboa, e apresentaram no Parque da Bela Vista alguns dos temas que compõem este “Oceania”. Não foi o concerto mais promissor, infelizmente, mas o disco compensa qualquer sensação de desilusão, com momentos que farão lembrar “Gish” (1991), “Siamese Dream” (1993) ou “Mellon Collie and the Infinite Sadness” (1995) - e mais do que tudo isso, vem provar que Billy Corgan ainda sabe compor grandes canções rock. Se há quem diga que os Smashing Pumpkins já deveriam ter chegado ao fim (desejo tentador desde há uns anos, convenhamos), “Oceania” faz-nos respirar de alívio e dizer que assim, sim, ainda bem que continuam por cá. @Edson Vital<
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