Em declarações à agência Lusa, Dora Morelenbaum confessou a “forte influência” de compositores como João Gilberto e Tom Jobim na sua formação musical, mas asseverou que “este álbum é justamente um outro olhar sobre a canção brasileira, olhando para outros parâmetros da música que não só harmonia e melodia - também elas - mas textura, som, paisagem sonora, beleza e também ruído".
"Claro que há referências no jazz, na soul, rhythm and blues e música popular brasileira", reconheceu. "Mas sinto que há muita música sendo produzida atualmente que não consegue nem pretende se encaixar num género, por ter bebido de fontes diferentes, e no Brasil isso se intensifica pelo seu tamanho e complexidade".
“A música está na minha formação, na forma como atrelei afeto à música e pude absorver as experiências musicais que vivi e, posteriormente, a música foi o que escolhi como profissão”.
Filha dos músicos Jaques e Paula Morelenbaum, Dora deu-se a conhecer ao grande público há três anos, em nome próprio, e fez parte da banda Bala Desejo, que venceu um Grammy Latino.
“Pique” começou a ser pensado em 2022, “juntando as músicas e entendendo como elas se comportariam em cada roupagem, até decidir qual seria a formação da banda: baixo, bateria, teclado e guitarra, toda a base do álbum”.
“Gravámos as bases em uma semana, depois vozes, cordas, sopros e vibrafones. Na 'mix', também nos aproximámos do que gostaríamos em termos de sonoridade”, acrescentou Dora Morelenbaum.
Para construir este álbum, Dora Morelenbaum disse à Lusa que ouviu muito Erykah Badu, Sade, João Donato, PJ Morton, Herbie Hancock e Cassiano.
Sobre a sua experiência na banda Bala Desejo, afirmou: “Para todos nós os Bala Desejo foram uma aula de música, produção, palco, mercado, e um tanto mais… Contribuiu para entender a potência de um trabalho coletivo, mas também a sabedoria de valorizar a individualidade de cada um e, principalmente, saber balançar entre os dois”.
Sobre o seu trabalho como compositora, explicou: “Eu sou maioritariamente compositora das músicas do meu álbum, fiz apenas uma das letras inteiramente sozinha, ['Sim, Não.']. Minha inspiração não é objetiva, às vezes ela se vira para o que sinto e vejo; noutras ela olha para outras histórias”.
Sobre a escolha do título, “Pique”, “veio por conta do nome de uma das canções que guiou a 'sensação vivo' na feitura do álbum”.
“É um álbum que fala sobre pegar as rédeas do discurso sonoro, se apropriar dos meios e escolher um caminho. Sobre esse movimento, interno e externo a mim”, acrescentou.
Ana Frango Elétrico foi a produtora do álbum juntamente com Dora, que se referiu à cantora, compositora, pintora e poeta brasileira, como uma “peça fundamental no pensamento do álbum como um todo”.
A banda base foi constituída por Alberto Continentino, Luiz Otávio, Sérgio Machado, Guilherme Lirio e Zé Ibarra, que “também arranjou e pensou as músicas”.
“Pique” vai ser apresentado em Lisboa, no próximo dia 17 de novembro, no MusicBox.
“Vou apresentar o álbum na íntegra e incluir algumas canções que inspiraram os arranjos e o processo de gravação. Também vou incluir alguns dos meus primeiros trabalhos, com nova roupagem”, adiantou a cantora e compositora à Lusa.
Do álbum, além de "Pique", que lhe dá o título, fazem parte canções como "Não Vou Te Esquecer", "Venha Comigo", "Caco", "VW Blue", "Petricor" e "Talvez (As Canções", num total de 11 temas.
Comentários