Palco Principal - Estão em Portugal para dois concertos, no Porto e em Lisboa. Quais são as expetativas para este regresso ao nosso país?
Dylan Carlson – Gostámos muito das últimas vezes que tocámos em Portugal. Por isso, penso que vai ser igualmente bom desta vez.
PP – Os vossos concertos são sempre muito aguardados pelo público português. O que é que podemos esperar destas atuações?
DC - Podem esperar um concerto clássico de um trio com duas guitarras. Temos temas mais recentes, mas igualmente potentes.
PP – O vosso último álbum – "Primitive and Deadly" – recebeu críticas bastante positivas. Podemos dizer que o vosso som regressou, de certo modo, às origens? Foi planeado ou simplesmente aconteceu?
DC - Sim. Realizámos várias digressões exaustivas, o que nos levou a tirar um ano de folga em 2013. E os temas que escrevi durante essa altura refletem um trio mais despojado. Acho que nos tornámos mais próximos e formamos, atualmente, um trio coeso, após várias voltas e reviravoltas. Queria neste álbum músicas mais consistentes e difíceis de voltar a reproduzir. Cresci a ouvir hard rock e metal, e é essa a música que me inspira. Sempre quis que os Earth transmitissem esta mensagem.
PP – "Primitive and Deadly": Como é que surgiu este título para o álbum?
DC - Faz parte da letra da canção “There is a Serpent Coming”, escrita por Mark Lanegan. Achei que era um título poderoso. É como se fosse uma missão para este álbum e gostei disso.
PP – Mark Lanegan, que também dá voz à canção. Como foi trabalhar com ele?
DC – Conheço-o há mesmo muito tempo... Acompanho o trabalho dele desde o início e sempre quisemos trabalhar juntos. E acabou por acontecer...
PP – Apesar de terem realizado algumas mudanças no vosso som ao longo dos anos, a essência Earth está sempre presente. O que é que caracteriza, acima de tudo, essa vossa essência?
DC – Realizámos algumas mudanças, sim, mas não foram radicais. Penso que muitas bandas que cresci a ouvir nunca tiveram medo de experimentar outro tipo de sonoridade ou deixar-se levar pelas suas influências musicais. O ponto comum entre as nossas diferentes fases é o nosso desejo de eternidade. Isto é, não gosto que as músicas sejam datadas ou associadas a alguma época específica. Além disso, são os nossos riffs e a sua musicalidade. Os Earth compõem completamente alheados daquilo que se faz na industria musical no momento. Nós fazemos “a nossa cena” e mais ninguém a faz da mesma forma.
PP – ODylan Carlson éconhecido como o pioneiro do drone e doom metal. Com que idade surgiu esta paixão pela música e quais eram as suas principais influências musicais?
DC – Os AC/DC foram a primeira banda que comecei a gostar por mim próprio. Quando tinha 11 anos, altura em que pude comprar o meu primeiro CD – que foi o "Dirty Deeds Done Dirt Cheap" –, tudo o que eu queria era ser músico de hard rock e heavy metal. Mas não consegui ter uma guitarra até completar 16 anos e, nessa altura, as minhas influências já eram outras. Os primeiros concertos aos quais assisti foram Molly Hatched e Saxon. Depois, Black Sabbath e The Outlaws. Vi o Ozzy Osbourne com os Randy Rhoads, os Iron Maiden com Paul Di'Anno... Por isso, as primeiras bandas que me inspiraram fora deste género – sem contar com aquelas que os meus pais ouviam, como os Rolling Stones, Eagles ou The Beatles – foram, por exemplo, os Velvet Underground. Comecei a apreciar alguma música Country com o meu pai, o Jimi Hendrix levou-me aos Old Blues e foram mesmo os Velvet Underground que me abriram o caminho para outras sonoridades como a de La Monte Young ou Terry Riley.
PP – Atualmente, quais são os principais desafios que sente na composição e produção musical?
DC – Tento apenas escrever bons riffs. Algo que se torne contagioso quando ouvido e que nos apeteça ouvir mais e mais.
PP – A música dos Earth reflete o seu mais profundo “eu”?
DC – Sou uma espécie de navio ou de um canal através do qual a música flui continuamente. Tal como o liquido rouba a forma ao seu próprio recipiente, eu influencio a forma do som e isso reflete-me ou, em última instância, transcende-me.
PP – Atualmente, conquistar o público significa conquistar, de certo modo, também os meios de comunicação social, trabalhar com agentes, editoras... Na sua opinião, de que forma todas estas influências externas podem corromper a forma como a música chega até ao público?
DC – Hoje em dia, parece-me que as pessoas precisam sempre de algo que, de alguma forma, lhes chame a atenção, e estão sobrecarregadas de informação. Exigem tudo em formato descartável e isso faz com que os sub géneros musicais se multipliquem. E tal leva, consequentemente, a uma maior exploração em termos de marketing. Mas não consigo apontar o dedo a um só culpado. Não sei se se prende com o facto de muitos jornalistas não serem profissionais, ou se é realmente culpa dos músicos, do público e de toda uma industria musical. Penso que seja, talvez, uma combinação de todos estes fatores. E muitas bandas têm uma boa dose de responsabilidade nisso porque decidem o sub género que devem tocar consoante o panorama musical, e fazem questão de o dizer em entrevistas.
PP – A vossa música não se deixa levar por “modas”. Está nos vossos planos alcançar um tipo de público mais abrangente, algum dia?
DC – Eu faço aquilo que faço. E, se outras pessoas decidirem explorar a mesma sonoridade – o que me parece estar a acontecer –, acho fantástico e fico muito feliz. Mas também levei mais de vinte anos a chegar onde estou hoje (risos). Não faço música com o intuito de agradar.
PP – Prefere o trabalho de estúdio ou tocar ao vivo?
DC - Quando comecei, adorava estar num estúdio – e continuo a gostar! Mas, atualmente, estar num palco é realmente a parte em que mais aprecio o meu trabalho.
PP – Está nos vossos planos entrarem em estúdio brevemente?
DC – Ando a escrever algumas coisas novas. Mas, provavelmente, não vou entrar em estúdio antes do fim deste ano, ou mesmo do início do próximo. De qualquer forma, 2016 seria uma altura favorável ao lançamento de um novo álbum.
Tatiana Branco
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