Mais do que o disco, o funk ou o heavy metal, o hip-hop e o rap aparecem como "o evento mais marcante da paisagem musical norte-americana" ao longo deste período, estimam os pesquisadores no estudo publicado nesta quarta-feira na revista especializada Royal Society Open Science.

O hip-hop nasceu nos bairros pobres do Bronx, em Nova Iorque, e a sua chegada ao mercado fonográfico mudou o cenário da música pop, de acordo com este trabalho. Especialmente em 1991, quando artistas como LL Cool J surgiram na cena musical.

Armand Leroi, um biólogo evolucionista da Imperial College London, e Matthias Mauch, cientista da Queen Mary University of London, transcreveram em algoritmos e computação gráfica as diferentes características de excertos de músicas do período que vai de 1960 e a 2010.

Os pesquisadores basearam-se no estudo de cerca de 17.000 títulos presentes na lista Billboard Hot 100, o ranking semanal das faixas mais populares nos Estados Unidos, isolando as diferentes características das canções, como a frequência de certos acordes e os tipos de instrumentos ou vozes.

"Não surpreendentemente, a maioria das características das canções muda pouco de um ano para o outro", explica Armand Leroi. "Mas às vezes, as diferenças tornam-se mais evidentes e, em poucos anos, as coisas evoluem rapidamente. Estes são aqueles anos que chamamos de 'revolucionários'".

Foram identificadas três "revoluções" foram identificadas, em 1964, 1983 e 1991, sendo esta última, de longe, a mais importante aos olhos dos pesquisadores.

A de 1964 foi marcada pelo desenvolvimento de vários estilos ao mesmo tempo, destaca o estudo. Especialmente a soul, o rock e o doo wop, uma variação do rhythm and blues. A revolução de 1983 foi marcada pela new wave, o disco e o hard rock.

Mas em 1991 foi claramente o hip-hop, na avaliação de Armand Leroi. Com um aumento claro de canções com "discurso enérgico" e "sem acordes". "O hip-hop explodiu, como se viesse do nada", explica Leroi à AFP.

O hip-hop estava lá desde os anos 1980, mas de uma forma mais confidencial, praticada nas ruas de Nova Iorque e Los Angeles. E, de repente, invadiu os tops de vendas.

Para Matthias Mauch, o estudo fornece dados científicos raros sobre a evolução da pop. "Alguns especialistas e cientistas levantam a tese de que a música está a uniformizar-se", observa, "mas tendo em conta a análise destes dados, não confirmamos esse fenómeno".

@AFP