No ano de 1994, Miguel Esteves Cardoso colocava na capa de um romance uma espécie de máxima sentimental que, mais tarde ou mais cedo na vida, acaba por atravessar o espírito de cada terráqueo mais ou menos dado a essa coisa das emoções: “O Amor é Fodido”.

Isto porque, em 2005, mordido pelo mosquito da paixão pintada com lápis de fabricação latina, Josh Rouse mudou-se para Espanha -o que, em termos musicais, resultou numa espécie de eclipse criativo de onde resultaram discos como “Subtítulo” (2006), "She's Spanish, I'm American" (EP feito a meias com a cara metade, Paz Suay, em 2007) ou "Country Mouse City House" (2007).

Já em 2010, cinco anos depois de ter assentado arraiais em terra de nuestros hermanos, Josh Rouse editou o longa-duração “El Turista”, onde se aproximou da linguagem do jazz e da bossa-nova, com recurso a orquestrações luxuriantes, e onde a proximidade à linguagem musical espanhola parece já não ter sido colocada à força do martelo.

Ontem à noite, o Santiago Alquimista recebeu a visita de Josh Rouse e banda, num concerto onde se mostrou o presente, se recordou o passado e, num vislumbre duplo, se pôde antever o futuro que se avizinha.

Após ter agradecido a presença dos fiéis num dia perfeito para se ficar em casa a ver televisão, Josh Rouse lançou-se a “I Will Live On Islands”, início de noite com muitas maracas, dança e espírito a recordar as tardes de sábado passadas a bordo de um “barco do amor”.

O passeio em classe turística continuou com “Lemon Tree” – onde nos veio à ideia a imagem de um piquenique com muitas tapas e regado a limonada – e “Sweet Elaine”, antes de Rouse contar a sua “sick story” vivida na última visita à Lusitânia, onde passou três horas no hospital por ter comido algo esquisito proveniente de uma qualquer cozinha espanhola. Também de “El Turista” chegou o muito dançável “Valência”, onde se pintam quadros de touradas, jogos de futebol e praias com areais de perder de vista.

Os primeiros raios solares entraram no Alquimista com “Sunshine”, do aclamado “1972”, disco de onde ainda fomos presenteados com “Flight Attendant” – com um solo de guitarra onde não ficaria mal uma guitarra portuguesa –, “1972” – numa versão acústica que nos fez acreditar que Josh Rouse irá sempre inventar grandes canções –, “Comeback” (Light Theray)" – uma celebração à moda dos The Smiths mas sem as flores e o pólen – e “Love Vibration” – onde se assistiu à clássica e muito alquimista invasão de palco.

Não faltou também uma visita de fim de tarde a “Nashville” – com os temas “Winter in the Hamptons” e “It`s the Nighttime” – ou um recordar de “Subtítulo” – com os temas “Summertime” e “His Majesty Rides” (um blues primaveril solarengo) –, o disco onde Josh Rouse parecia querer atirar com as americanices às urtigas e assumir a nacionalidade espanhola.

Quanto aos novos temas, “Oh Look What The Sun Did” e “Lazy Day”, mostram que o novo disco, com data de edição prevista para Setembro, pode trazer uma boa surpresa. De preferência com sotaque americano.

Pedro Miguel Silva