Em “Marley” – um documentário realizado pelo escocês Kevin Macdonald, também responsável pela realização dos filmes “O último Rei da Escócia” e “A Vida em Um dia” - é explorado o lado mais íntimo e desconhecido da vida do artista, também pai de 11 filhos, marido dedicado, entusiasta de futebol e, acima de tudo, exímio profeta social e político, cuja mensagem transcende, hoje, a cultura, a língua e as crenças, ressoando por todo o mundo de forma poderosa.
Apresentado em fevereiro passado no Festival de Cinema de Berlim, “Marley”, para o qual contribuíram com informação a família de Bob Marley e algumas figuras preponderantes na evolução musical do ícone, entre as quais um dos membros da formação original dos Wailers, Neville “Bunny” Livingstone, ou o fundador da Island Records, Chris Blackwell, também inclui, além do retrato biográfico do cantor, cenas de concertos e uma entrevista rara, entre outros conteúdos inéditos.
Bob Marley -A vida
Nascido no dia 6 de Fevereiro de 1945 no seio de uma família humilde, em Rhoden Hall, perto de Nune Mile, na Jamaica, Bob Marley iniciou o seu percurso no mundo da música em 1962, com a gravação dos singles One Cup of Cofee e Judge Not, sob o pseudónimo Bobby Martell.
Um ano mais tarde, criou os The Teenagers – que mudariam, posteriormente, o seu nome para The Wailers -, juntamente com vários amigos, entre os quais Bunny Wailer e Peter Tosh.
No entanto, a ascensão de Bob Marley só começaria em 1972 (até então, tinha gravado quatro álbuns), com a edição do álbum “Catch a Fire”. As vendas do álbum, não sendo suficientes para transformar Marley numa estrela instantânea, chamaram a atenção dos críticos.
“Burnin” (1973) viria a suceder a “Catch a Fire” e seria responsável pelos grandes êxitos, ainda hoje ouvidos, Get Up, Stand Up e I Shot the Sheriff.
Em 1974, pouco tempo depois de Bob Marley & The Wailers perderem Tosh e Bunny, chegaria ao mercado discográfico “Natty Dread”, responsável pelo sucesso No Woman No Cry, que rapidamente alcançou a aclamação internacional. Seguiu-se, em 1976, “Rastaman Vibration”, que passou quatro semanas consecutivas no Top 100 da Billboard.
Radicado nos EUA após ter sido baleado em Kingston, Marley lançou, “Exodus” (1977), “Kaya” (1978) e“Survival” (1979). O seu último disco em vida seria “Uprising”, lançado em 1980.
Aquele que é considerado, quase por unanimidade, o expoente mais alto do reggae tinha apenas 36 anos de idade quando faleceu, vítima de cancro (provocado por uma lesão no pé), a 11 de Maio de 1981.
Após a sua morte, não faltaram colectâneas e, inclusive, um disco póstumo, “Confrontation”, de 1983.
Três décadas após a sua morte, o também conhecido por «rei do reggae» continua a ser recordado um pouco por todo o mundo, sendo uma constante fonte de inspiração para dezenas de novos artistas. Pequenos ou graúdos, não há quem não saiba cantar temas como No Woman No Cry, Could You Be Loved ou I Shot The Sheriff– alguns dos mais emblemáticos do músico, politicamente comprometidos e de forte cariz social, que hoje fazem parte de um repertório coletivo da música internacional.
O Legado de Bob Marley
Bob Marley, um dos mais conhecidos rostos do movimento espiritual Rastafari, defensor de uma mensagem de paz, liberdade e emancipação, denunciador da pobreza, da repressão e da realidade social da Jamaica, deixou-nos, em vida, 14 álbuns – 12 de estúdio e dois ao vivo -, bem como um legado no reggae que permanece sólido até hoje, com mais de 200 milhões de discos vendidos.
“Legend”, lançado originalmente em 1984, continua a ser o álbum mais vendido da história do reggae. Já “Exodus” (1977) foi eleito pela revista “Time” como um dos melhores álbuns do século XX.
Mas nem só de álbuns é feito o legado de Marley. Com 11 filhos legítimos e mais uns três a usar o seu apelido (embora não reconhecidos pela família), seria de esperar que algum iria fazer carreira na música. Não foi um, foram vários.
David ‘Ziggy’ Marley, actualmente com 43 anos, canta como o pai e passa mensagens de paz através das letras das suas músicas. Tem um extenso repertório que vem desde 1985 e já ganhou cinco Grammy Awards. É activista e líder de uma ONG.
Damian ‘Jr. Gong’ Marley, de 34 anos, é o filho mais novo de Bob. Já ganhou três Grammys e passou por Portugal no ano passado, para um concerto no Pavilhão Atlântico, em Lisboa, ao lado de Nas.
Stephen, 39 anos, faz parte da banda do irmão mais velho, Ziggy, e foi produtor dos três álbuns a solo de Damian. Da banda – os Melody Makers – fazem também parte Cedella e Sharon, duas das filhas de Bob.
Julian Marley, 37 anos, também é músico. Tem três álbuns editados. Ky-Mani andou uns tempos dividido entre o futebol e a música, acabando por se render à arte. O seu som, para além de reggae, tem base no hip-hop e sons mais urbanos.
Sara Novais
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