Embora os Miss Universo sejam apenas dois, o álbum de estreia da dupla é um projeto a várias mãos, porque a sonoridade que imaginaram quando estavam a compor os temas de “Manifesto de um Jovem Moderno” era “um pouco maior” que eles e não quiseram limitar-se às suas “poucas qualidades técnicas”, contou André Ivo, em entrevista à agência Lusa.
Sem o recurso a mais músicos não seria possível ouvir-se “um grande coro”, cordas ou sopros nos oito temas que compõem o álbum.
Por serem dois – “pessoas muito parecidas em certos sentidos e muito diferentes noutros” – é “impossível que não haja uma certa fusão” na música que criam juntos: “Nada soa a 100% a André e nada soa a 100% a Afonso”.
“O que nos daria mais gosto, ou que estaríamos mais orgulhosos que acontecesse, era que não houvesse uma sonoridade de Miss Universo, não houvesse um tipo de som de Miss Universo. Mas haver canções, seja uma coisa mais africana, seja uma chula, seja rock, um pouco transversal aos géneros musicais, mas perceber-se que é Miss Universo. Não estar tanto na sonoridade, mas na canção em si e no ADN da canção”, referiu André Ivo.
Músicos como Manel Cruz, Fausto Bordalo Dias, José ‘Zeca’ Afonso, José Mário Branco e o projeto Criatura são referências comuns a ambos nas músicas, e acabaram por se irem “cimentando, à medida que o projeto foi crescendo”, como influências na sonoridade de Miss Universo.
Autodidatas, André Ivo, de 23 anos, e Afonso Branco, de 20 anos, cresceram “rodeados de música”, em famílias “muito ligadas” ao meio. “Por isso é inevitável que o bichinho comece a ganhar asas cá dentro”, considerou André Ivo, que é neto do fadista José Manuel Rato. Já Afonso Branco é neto do músico e compositor José Mário Branco.
André e Afonso conheceram em 2021 e logo aí cimentaram “uma ligação muito forte”, que se manteve à distância durante um ano, em que o primeiro esteve a estudar fora do país.
A relação de amizade que foram criando “obviamente passara por música”, visto serem “dois amantes de música”.
“A certo ponto quase nos pareceu inevitável que esses dois mundos [a nossa amizade e o amor pela música] se cruzassem, e começámos a tocar juntos muito esporadicamente”, recordou André.
Daí até à criação dos primeiros temas foi um salto.
O nome do projeto acabou por surgir por acaso, em conversa.
“Alguém fez uma ligação a Miss Universo e fez-nos sentido. Depois era um nome a que conseguíamos juntar um conceito. Não ser só um nome gingado, mas significar alguma coisa, ser uma personagem um pouco maior que nós, e representar uma totalidade do projeto que André e Afonso não conseguem representar”, referiu.
Esta Miss Universo “engloba no seu grito, na sua maneira de estar” as coisas de que André Ivo e Afonso Branco gostam e o que dizem.
“O corpo de Miss Universo é o nosso conteúdo musical, o que nós queremos exprimir e o que temos aqui é o grito de Miss Universo”, disse.
A música que fazem, tal como a música em geral, “é sempre uma tomada de posição”: “Independentemente de estarmos aqui a cantar sobre derradeiras questões sociais, por amor ou pelo pássaro que vi ontem e achei muito giro”.
“Manifesto de um Jovem Moderno” é apresentado ao vivo a 15 de novembro, em Lisboa, no Musicbox, e a 21 de novembro, no Porto, no Maus Hábitos.
Além das canções do álbum de estreia, a dupla irá incluir no alinhamento dos espetáculos versões de músicas “importantes” para ambos e que gostam muito de tocar, de Manel Cruz, Zeca ou Fausto.
“Apesar de não serem nossas, sentimos que pertencem ao nosso universo e que faz sentido trazê-las, e é também uma forma de homenagem”.
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