Diz-se na gíria casamenteira que é uma sorte verdadeiramente danada quando, no dia de proferir os votos solenes e de colocar dois círculos dourados à volta dos anelares, cai dos céus uma carga de água.
Talvez por isso, “These New Countries”, primeira aventura em formato longa duração de We Trust, comece com o som de uma chuva algo tímida, que logo se deixa abraçar por um piano decidido e uma voz que nos propõe a chegada de sentimentos abençoados pela luz solar.
Não era preciso tanta superstição. Depois de Time (better not stop) ter chegado aos ouvidos de meio país, a confirmação de que este era um projeto que merecia mais do que um single destinado a acabar como fundo sonoro de uma companhia dos telefones – ou de um qualquer veículo de quatro rodas – chegou, por exemplo, na edição deste ano do Sintra Misty, que serviu de grande e bem conseguida apresentação do projecto We Trust ao público nacional, mesmo que num formato onde não houve espaço para a bateria.
“These New Countries” é uma viagem de comboio entre a pop e a electrónica, um inter-rail europeu com paragens obrigatórias numa França perfumada e sensual e numa Inglaterra sempre pronta para fabricar artesanalmente uma pop com sabor a goluseimas. Uma viagem sentimental onde o amor, cantado e tocado de forma atrevidamente despida, nos entra pelos olhos – neste caso à alma – com muita classe, sensualidade e refinamento.
Again é música que transforma os anos noventa num estado popitrónico; Time (better not stop), o hit de 2011 por terras lusas, podia servir de fecho musical a um remake do ET de Spielberg; Once at a time é um passeio romântico à beira-mar, abençoado por ondas violinísticas; Tell me someting traz-nos de volta a pop dançante (e excitante) dos Housemartins e a rebeldia dos The Smiths, num tema que será certamente um dos grandes singles deste final de 2011; Reasons é o encontro perfeito entre a electrónica e a chanson française de inspiração gainsbourguiana; Within your stride é um sonho pop carregadinho de soul e pedaladas wah-wah; Freedom bound é puro algodão doce, uma viagem na roda gigante de qualquer feira que habite a nossa imaginação; This time the truth tem o balanço de uns The Cure e o kick de toda a pop feita em terras de sua majestade – puro algodão-doce; Surrender, a homenagem de We Trust a Neil Young – e a “Harvest” –, encerra o disco e, nessa altura, ficamos a pensar se não teremos sonhado tudo isto.
Até há coisa de dois dias, o Sudão do Sul era o mais novo país do globo terrestre a fazer parte do Atlas Mundial. We Trust acaba de lhe acrescentar mais 12.
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