
Entre dimensões paralelas, clones com crises existenciais e piadas que desafiam os limites do bom senso, "Rick e Morty" continua a surpreender — temporada após temporada. Para os fãs, a série tornou-se sinónimo de liberdade criativa total. E, segundo os próprios criadores, esse espírito continua bem vivo na oitava temporada.
"No início de cada temporada fazemos o que chamamos de 'blue skying'", conta Scott Marder, o showrunner da série. "Nada está fora de questão. Qualquer ideia, por mais absurda que pareça, pode transformar-se num episódio completo, desde que tenha uma base sólida que a sustente."
Dan Harmon, cocriador da série, parece alinhado na mesma filosofia: "Nada é demasiado louco. Mas às vezes há ideias que, apesar de inteligentes, não têm o motor emocional que procuramos. Se no fim do episódio não conseguimos dar ao Morty — e ao espectador — uma razão para seguir em frente, então abandonamos."
A combinação entre ficção científica, humor negro e angústia existencial bebe de várias fontes, mas Harmon destaca uma influência acima das outras – Douglas Adams. "'À Boleia Pela Galáxia' teve um enorme impacto. A ideia de um universo onde nada faz sentido, onde o caos impera, sem ser mais nobre ou mais inteligente — apenas mais absurdo — isso é Douglas Adams puro. Foi, e continua a ser, a maior inspiração da série."
Embora pareça composta por episódios soltos, "Rick e Morty" tem uma narrativa que evolui subtilmente. Segundo Marder, a oitava temporada mostra uma família mais habituada à insanidade interdimensional. "Estão mais preparados para lidar com o Rick. E o próprio Rick está mais presente, menos obcecado com a sua missão pessoal."
Após sete temporadas desde a estreia em 2013, Harmon acredita que finalmente há espaço para aprofundar a amizade entre Rick e Morty. "Passámos a fase em que o Morty só reclamava. Agora há uma lealdade entre os dois que abre novas portas para a comédia."
Quando a loucura bate à porta do estúdio
Se os mundos da série são imprevisíveis, o trabalho das vozes também não fica atrás. Sarah Chalke, que dá voz a Beth, diz que a evolução da personagem tem sido uma das partes mais gratificantes do seu percurso. "Foi incrível acompanhar o crescimento da Beth e, mais recentemente, explorar a dualidade com a Space Beth — talvez a minha parte favorita de todo o trabalho."
Chalke fala ainda sobre os desafios emocionais da série: "Na animação estás sozinho na cabine. Já tive de chorar sozinha, só com um microfone à minha frente. É exigente, mas também uma oportunidade para criar nuances — como gravar sempre a Beth ‘normal’ antes da Space Beth, para conseguir dar-lhe uma textura vocal mais rouca."
Para Ian Cardoni (Rick), Harry Belden (Morty) e Spencer Grammer (Summer), o estúdio é muitas vezes palco de ataques de riso incontroláveis. "Há momentos em que temos dez tentativas para dizer uma frase e depois alguém do outro lado do vidro faz uma piada e já não conseguimos parar de rir", confessou Belden. "Mas é isso que torna esta série tão divertida de gravar — o guião é mesmo muito bom."
Cada ator tem as suas preferências. Cardoni adora as cenas de Rick em modo maníaco, que descreve como uma "válvula de escape perfeita". Ainda assim, não dispensa os momentos mais humanos da personagem: "Explorar esse espectro tem sido uma das melhores partes desta viagem." Já Belden diz que gosta tanto da energia frenética quanto do desespero absoluto de Morty. "Depende do dia. Há dias em que sou o miúdo fascinado com tudo, e noutros sou o tipo em pânico total. Faz parte."
Summer, por outro lado, assume uma nova posição dentro da família. "Ela não começa como instigadora, apenas reage às loucuras do Rick", explica Grammer. "Mas acaba por assumir a liderança quando a sobrevivência depende disso. E acho que isso espelha bem o mundo atual — até onde estamos dispostos a ir para ter sucesso?"
Crossovers, super-heróis e... "The White Lotus"?
Questionados sobre um possível crossover, as respostas vão do inesperado ao delirante. Harry Belden e Ian Cardoni gostavam de ver Rick e Morty no universo da DC, a resolver o crime em Gotham com uma única peça de tecnologia de Rick. Já Spencer Grammer imagina Summer a criar confusão em "The White Lotus": "Podia ser empregada ou acompanhante. Nem vem de uma família rica, mas podia perfeitamente matar alguém. Ia ser lindo."
Dan Harmon, por sua vez, prefere imaginar Rick e Morty em situações que subvertem o seu poder. "Imagino-os presos numa sala de urgência em Pittsburgh, a ajudar pessoas durante 15 horas. Seria caótico... e hilariante."
E o que esperar da nova temporada?
"As temporadas 8, 9 e 10 são incrivelmente boas para uma série que já vai tão longe", garante Marder, com confiança. Sarah Chalke antecipa que "algumas das aventuras mais marcantes da série estão nestes novos episódios." Chris Parnell promete versões surpreendentes de Jerry — e, como sempre, "convidados especiais incríveis".
A oitava temporada de "Rick e Morty" é composta por dez episódios, sendo que os primeiros quatro já se encontram disponíveis na plataforma de streaming Max. Os restantes serão lançados semanalmente, com um novo episódio a estrear todas as segundas-feiras.
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