Alyona também se tornou uma espécie de ícone para as pessoas XXG (maior tamanho de roupa) depois de se surgir com uma roupa de banho prateada no seu videoclip de estreia, intitulado "Ribki" ("Peixe").
No vídeo, a ucraniana aparece rodeada de modelos muito magras numa canção que representa uma metáfora sobre mulheres jovens que se sentem deslocadas.
A rapper, que na certidão de nascimento se chama Alyona Savranenko, canta sobre os corpos femininos, o abuso psicológico e o empoderamento das mulheres, em temas que desafiam os estigmas clássicos do hip hop.
Aos 28 anos, Alyona tornou-se um fenómeno na Europa e foi figura de destaque no festival Eurosonic, em Groningen, na Holanda, depois de ter sido apontada como uma aposta musical pelo The New York Times.
Carisma e ousadia
"Ela é realmente extraordinária, tem muita personalidade", disse Jean Louis Brossard, que no ano passado levou a rapper para o Trans, festival que organiza na cidade francesa de Rennes.
Na sua opinião, Alyona "consegue unir as pessoas com o seu sorriso e entusiasmo", comentou.
Segundo a jornalista Eloise Bouton, fundadora do site Madame Rap, "Alyona é extraordinariamente boa, tem muita técnica, é ousada... que mais posso dizer?", afirma.
Embora tenham como cenário a sua pequena cidade na Ucrânia, os seus vídeos já têm milhões de visualizações nas redes. Um deles, que mostra os seus pais sentados na mesa do seu apartamento que remete para a época soviética, já foi visualizado quatro milhões de vezes.
A maior estrela do rap ucraniano começou a escrever poemas aos seis anos, mas tudo mudou quando conheceu o hip hop, aos 12 anos.
No início, Alyona apenas copiava ou traduzia letras de rap norte-americanas, até encontrar o seu próprio estilo, no qual canta sobre as mulheres na sociedade.
A fama chegou com o vídeo "Ribki", onde pode ser vista em fato de banho enquanto se diverte num jet ski. O vídeo tornou-se viral e o sucesso foi instantâneo.
"Num primeiro momento fiquei assustada com toda aquela atenção. O vídeo teve tantas visualizações que surgiam jornalistas a querer entrevistar-me" na pequena cidade onde morava, próxima de Kiev, relata a cantora à AFP.
Combate ao sexismo
Alyona percebeu que para levar a sério a sua carreira musical deveria abrir mão do seu outro trabalho.
"'Ribki' é sobre mulheres que têm piercings, tatuagens, cabelos com cores diferentes ou um corpo que não é visto como padrão", ressalta a cantora.
"Nós, que somos essas mulheres, somos como peixes na peixaria. E por trás do vidro que nos isola não ouvimos as palavras desagradáveis que nos dizem", conta.
Outra canção, "Pushka" (que em português seria "A Bomba"), também é criativa na forma de retratar as mulheres. Nela, Alyona autointitula-se "pishka", um termo pejorativo usado com pessoas que sofrem de excesso de peso.
Há também letras comoventes, como quando canta: "Podem ter uma visão ampla sobre tudo, mas nunca nos convidam para as vossas casas".
Num território tradicionalmente dominado por homens, Alyona vezes tem de lidar com críticas dentro do universo do hip hop.
"Já me disseram que as mulheres foram feitas para cozinhar, para tratar das crianças, para fazer as unhas", comenta.
A ucraniana, no entanto, tem lutado para conquistar o seu espaço.
"Tento demonstrar que as mulheres têm lugar nas batalhas de rap. Tento inspirar as pessoas. Não apenas dizer às mulheres que podem ser rappers, mas também que não deixem de acreditar em si mesmas", diz.
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