Oito anos após a sua publicação e depois de ter sido traduzido nas principais línguas, o livro que consagrou a escritora sul-coreana também como romancista ganhou uma tradução para língua portuguesa, feita diretamente do coreano por Yong Hui Qio Pan, editada pela Presença.

Fenómeno internacional, sobretudo entre jovens adultos, este livro apanha a corrente da cultura sul-coreana, que tem vindo a ganhar cada vez mais adeptos, quer na música, no entretenimento, no cinema e na animação, como nos alimentos e, mais recentemente, na literatura.

“Amêndoas” conta a história de Yunjae, um jovem diagnosticado com alexitimia, condição neurológica que torna os seus portadores incapazes de identificar e expressar sentimentos.

O título é uma alusão às amígdalas cerebelosas, duas estruturas existentes no cérebro, que têm o formato de amêndoas e que são responsáveis pelo funcionamento do sistema emocional do cérebro.

O protagonista não consegue, pois, identificar nem expressar emoções, o que lhe causa graves problemas na vida, a começar na escola e na incapacidade de fazer amigos, mas também de identificar o perigo.

A mãe e a avó arranjam uma espécie de sistema de códigos, com papéis coloridos espalhados pelas divisões, que indicam a Yunjae como se comportar de acordo com as situações, nomeadamente quando agradecer, sorrir ou preocupar-se.

Certo dia, um ato de violência destrói tudo o que conhece e deixa-o completamente sozinho, levando-o a um isolamento e silenciamento cada vez maior, num mundo hostil que não aceita pessoas diferentes, até conhecer um outro rapaz “problemático”, com quem estabelece amizade.

No prólogo, lê-se: “Esta história é, em suma, sobre um monstro que encontra outro monstro. Um dos monstros sou eu”. A frase leva à interrogação sobre se uma pessoa que é incapaz de identificar e expressar sentimentos é um monstro, ou é apenas uma pessoa diferente que precisa de uma abordagem diferente.

Elogiado pela crítica, “Amêndoas” foi descrito como “ousado e original”, um romance que transporta o leitor “até ao mais profundo da condição humana”.

O livro, que aborda temas como amizade, violência e abandono, foi ainda elogiado pela sua capacidade de suscitar uma reflexão em torno da complexidade do mundo dos sentimentos e da dificuldade de expressar emoções.

Numa nota introdutória, é explicado que a alexitimia é uma doença mental, que foi descrita pela primeira vez em publicações de medicina na década de 1970, tendo estudos mais recentes sugerido que a capacidade das amígdalas de processar medo e ansiedade pode ser melhorada com treino.

Won-Pyung Sohn, que entretanto já publicou mais dois romances, um dos quais foi também premiado, continua a trabalhar na área do cinema, a par da escrita.

Nascida na Coreia do Sul, formou-se em Ciências Sociais e Filosofia na Universidade de Sogang e em Realização de Cinema na Academia Coreana de Artes Cinematográficas.