Tendo como tema a saúde mental na Irlanda, “Remédio” gira em torno de John Kane, um doente mental que, logo no início da peça, surge sentado numa cadeira de hospital.
Na sala onde está John Kane, chegarão, pouco tempo depois, um baterista, duas mulheres chamadas Maria, um homem muito velho e uma lagosta de grandes dimensões.
Fora da sala onde John Kane se encontra, e que parece ser usada para atividades como pingue-pongue, badminton e até bingo, ouvem-se sons da instituição, entre os quais pessoas a chamar, a gritar e portas a bater.
No teto da sala há uma faixa onde se lê “parabéns”, alguns balões já meio vazios e uma mesa com resto de comida e de refrigerantes. Uma bateria completa, uma secretária, um carrinho de metal com equipamento de som e uma grande cabine com uma janela de vidro são outros dos apontamentos em que se fixa o cenário da peça.
“Olá, consegue ouvir-me”, “Estou a ouvir a sua respiração”, “Como se sente hoje?” são as primeiras falas da peça a que, pouco depois, John responde “Bem”.
“Queria perguntar-lhe para que é que usaram esta sala ontem à noite. Está desarrumada e não quero gastar o meu tempo a limpá-la. Cheira mal e há uma faixa pendurada”, acrescenta John, sublinhando estar nervoso, porque embora entenda que o pessoal “tem de se soltar de vez em quando”, só tem oportunidade de ir àquela sala “uma vez por ano”.
E a entrevistadora continua, em ‘voz off’: “E porque é que veio para aqui? Quem teve a ideia de você vir para aqui, John?”.
“Os meus pais e um médico na minha cidade”, responde John sem que se saiba porquê nem há quanto tempo está institucionalizado.
Enquanto John continua a conversa com a entrevistadora, vão chegando à sala um velho, uma lagosta e outras personagens. À medida que a trama avança, ocorrem ruídos e situações estranhas.
“Acho que nos anos 1940 houve [na Irlanda] uma grande histeria a internar pessoas; aliás, os hospícios da Irlanda em termos arquitetónicos são dos maiores da Europa, e acho que houve ali uma febre qualquer – embora eu também não tenha estudado bem esse tema da história – que qualquer pessoa que falava mais alto que as outras acabava por ser institucionalizada”, observou o encenador, António Simão.
Os Artistas Unidos põem em cena esta peça para falarem sobre “confinamentos, humanidade, ajudar o outro, ajudar o próximo”.
Ao contrário de outras peças do dramaturgo irlandês, “Remédio” tem como base um tema social e passa-se em "camadas sobre camadas".
Sem nunca pôr em causa a existência de desequilíbrios mentais, Enda Walsh disse que “Remédio” “é uma boa peça para se perguntar a si próprio como é que está a sua humanidade, como é que classifica a sua humanidade e para perguntar a si próprio como é que neste momento isso está a correr”, observou ainda o encenador.
Com tradução de Joana Frazão, “Remédio” tem interpretação de Íris Runa, Maria Jorge e Rúben Gomes, o baterista Pedro Domingos e as vozes de Américo Silva, Andreia Bento, Diana Especial, Diana César, Frederico Gonçalves, Gonçalo Ouro, Helder Bráz, Isabel Milhanas Machado, João Meireles, Pedro Roquette e Raquel Montenegro.
A cenografia é de José Manuel Reis, os figurinos de Rita Lopes Alves, a luz de Pedro Domingos e o som de André Pires.
Em cena até 16 de dezembro, a peça tem recitas de terça-feira a quinta, às 19:00, à sexta, às 21:00, e, ao sábado, às 16:00 e às 21:00.
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