“Uma atriz comprometida com a arte de pensar e de agir, num processo completo, que encantou o público, mas educou também e deu a conhecer, através da sua voz única, a diversidade e a riqueza da literatura portuguesa”, lê-se numa nota de pesar assinada por Graça Fonseca.
Para a ministra da Cultura, a atriz, que morreu na segunda-feira, em Lisboa, aos 96 anos, “transformou o seu trabalho e o seu talento num legado único e num serviço de exceção à cultura portuguesa”, tendo-se tornado também numa “referência da arte de dizer poesia”.
“Carmen Dolores pertence a uma geração de atores que transformou o teatro em Portugal, entregando-lhe um saber e uma prática assentes numa relação de compreensão pela palavra, e a importância das suas consequências”, prossegue a nota.
Graça Fonseca sublinhou que o seu percurso “é marcado por exemplos onde o poder da interpretação não se extingue na relação entre o ator e o espetador, mas se prolongou numa luta constante entre a liberdade e a censura, entre a força e determinação em fazer vingar ideais e valores de defesa da dignidade humana, entre o político e a ação individual”.
Nascida em Lisboa, a 22 de abril de 1924, Carmen Dolores estreou-se nos palcos no Teatro da Trindade, na capital portuguesa, em 1945, integrada na Companhia Os Comediantes de Lisboa, na peça “Electra, a mensageira dos deuses”, de Jean Giraudoux, encenada por Francisco Ribeiro (Ribeirinho).
Numa referência ao ser percurso, a ministra da Cultura recordou que Carmen Dolores se estreou no cinema, sob a direção de António Lopes Ribeiro, na adaptação de “Amor de Perdição” (1943), no qual “surpreendeu” no papel de Teresa de Albuquerque.
Com o realizador José Fonseca e Costa, a atriz deu voz e rosto a Cristina em “A Mulher do Próximo” (1988), “uma personagem que desafiava as convenções estereotipadas da burguesia e que se tornou numa das interpretações centrais” no seu percurso profissional.
“Atriz de muitos recursos e talentos, teve também um papel fundamental na história do teatro contemporâneo em Portugal, desde a sua estreia no Teatro da Trindade e, depois, no Teatro Nacional Dona Maria II, sob a direção de Amélia Rey Colaço, colaborando com muitas das companhias históricas”, lê-se na nota.
A ministra da Cultura destacou ainda o seu trabalho como fundadora do Teatro Moderno de Lisboa, com Rogério Paulo, Fernando Gusmão e Armando Cortez, “uma instituição pioneira e marcante na história do teatro independente em Portugal”.
Carmen Dolores retirou-se dos palcos em 2005, com a peça “Copenhaga”, no Teatro Aberto, encenada por João Lourenço.
Em julho de 2018, a atriz foi condecorada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com as insígnias de Grande-Oficial da Ordem do Mérito, no âmbito de uma homenagem no Teatro da Trindade à atriz, que incluiu a estreia da peça “Carmen”, inspirada nas suas memórias, e o batismo da sala principal com o seu nome.
A atriz foi ainda distinguida com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, atribuído pelo Presidente da República Jorge Sampaio, com a Medalha de Ouro da Câmara Municipal de Lisboa, o prémio Sophia de Carreira, da Academia Portuguesa de Cinema, e o Prémio António Quadros de Teatro, entre outros galardões.
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