“Balada do Desterro – Zeca Afonso” sai com o selo da editora portuguesa Tradisom, mas resulta de uma parceria com a editora galega aCentral Folque, da qual partiu a ideia do projeto editorial, como contou à Lusa o editor José Moças.
O livro foi escrito pela autora galega Teresa Moure, docente na Universidade de Santiago de Compostela, e desenhado pela portuguesa Maria João Worm.
Nas últimas páginas de “Balada do Desterro” é explicado que este livro romanceia a vida de José Afonso: “Todo o escrito numa ficção é necessariamente falso. Pode apoiar-se documentalmente em livros de investigação, em eventos realmente sucedidos, em entrevistas, nas lembranças dos vivos, mas é falso. Menciona figuras reais, mas é falso. Tenta seguir o rigor do acontecido, mas está condenado a ser falso”.
A narrativa segue uma cronologia da vida de José Afonso, mas equilibra-se sobretudo entre a relação com África, em particular com Moçambique, e com a Galiza, em Espanha, cujo apreço pela música do cantautor português permanece até à atualidade.
Cruzando ficção e realidade, as autoras desta banda desenhada sublinham ainda a figura feminina na vida do músico, nomeadamente com referência às duas filhas, que teve com duas mulheres, ou com a ilustração das músicas “Teresa Torga” e “As sete mulheres do Minho”.
Com um trabalho visual que se assemelha a um teatro de sombras, “Balada do Desterro” faz ainda referência à censura do Estado Novo, à prisão de José Afonso em Caxias, à revolução de 25 de Abril de 1974, à importância de “Grândola, Vila Morena”, tanto em Portugal como na Galiza.
No livro, José Afonso é retratado como tendo um “caráter melancólico”, que vivia os concertos como “se fosse colocado numa montra para a contemplação pública”, que adorava Joan Baez, Bob Dylan e Jacques Brel, mas que detestava “modas e modernices”.
Na nota de apresentação de “Balada do Desterro”, Teresa Moure e Maria João Worm dizem sentir “fascínio por aquele homem que cantava causas políticas”.
“Mas, entre palavras e silhuetas, ambas tecem uma rede para sustentar um Zeca mais íntimo do que habitualmente os seus camaradas lembram”, refere a Tradisom.
José Afonso nasceu em 2 de agosto de 1929, em Aveiro, começou a cantar enquanto estudante em Coimbra, tendo gravado os primeiros discos no início dos anos 1950 com fados de Coimbra.
Considerado um nome incontornável da música portuguesa do século XX, José Afonso gravou, entre outros, os álbuns “Cantigas do Maio” (1971), “Venham Mais Cinco” (1973), “Coro dos Tribunais” (1974) e “Com as Minhas Tamanquinhas” (1976), que têm vindo a ser reeditados.
Autor de “Grândola, Vila Morena”, uma das canções escolhidas para senha da Revolução de Abril de 1974, José Afonso morreu em 23 de fevereiro de 1987, em Setúbal, de esclerose lateral amiotrófica.
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