Rodrigues Marques inicia no domingo na Aula Magna, em Lisboa, uma série de três espetáculos em Portugal na digressão para promover o espetáculo “Paz de Darwin”, que aborda o que é ser ateu no Brasil, um país onde o discurso religioso tem contribuído para a polarização do país.
“Não tenho a menor ideia como é que vai ser ou como será a reação das pessoas quando esse espetáculo sair da minha bolha e for gravado nalgum local”, admitiu, em entrevista à Lusa, o comediante que tem tido um grande sucesso nas redes sociais e é uma das caras novas do humor brasileiro.
No seu espetáculo, relatou, fala sobre "o preconceito" que afirma sofrer "por ser ateu no Brasil”.
“Às vezes calha que uma pessoa, que tem uma fé fraca, se sente ofendida por achar que eu estou zombando de Deus. Eu não estou zombando de Deus, estou fazendo piada com Deus”, sublinhou, considerando que estas reações nos espetáculos de 'stand-up comedy' ao vivo poderão mudar quando o projeto chegar a plataformas de 'streaming' ou à internet.
“Quem vai assistir [aos espetáculos], conhece-me e sabe o estilo de comédia. [Este espetáculo é], na minha humilde opinião, o meu melhor 'show'”, afirmou.
“Escuto muita gente falando que ‘você virou o meu ateu preferido’”, salientou Rodrigo Marques, que diz nunca ter abordado outros temas tensos como política ou futebol, porque “nunca calhou”.
“O brasileiro está vivendo, à época, o que a gente chama carinhosamente de político de 'pet', quando você gosta de um político num nível que parece que ele é seu animal de estimação e não importa o que ele faça, você defende-o de qualquer jeito”, reconheceu Rodrigo Marques, que faz o seu primeiro espetáculo em Lisboa exatamente uma semana depois da eleição de Lula da Silva contra Jair Bolsonaro, nas eleições presidenciais mais polarizadoras da história do Brasil.
A “comédia cutuca, então as pessoas esqueceram o básico, de que todo mundo seja feliz, que todos os políticos façam o bem e o melhor para a sociedade”, acrescentou Rodrigo Marques, salientando que “as pessoas não querem que você fale do político A ou político B porque ‘é meu político’ que ‘eu amo ele’” ou 'porque ele vai melhorar o Brasil, porque vai salvar o mundo'”.
“Eu não falo de política ou de futebol ou de outra coisa, porque nunca apareceu a vontade. Não é questão de como é que as pessoas vão reagir a isso ou se eu vou perder público, até porque, pela quantidade de público que eu tenho hoje, não existe nenhuma piada que eu faço, nenhum vídeo que eu poste, nenhum texto, nenhuma linha que eu escreva que não vai desagradar uma percentagem do meu público. Não há como”, salientou.
Com um irmão a viver em Portugal – já é “cidadão português” - e “apaixonado pelo Bairro Alto”, Rodrigo Marques tem sentido o “carinho dos portugueses” que representam uma parte grande da sua audiência.
“Fico feliz de saber que Portugal acompanha e curte a comédia brasileira”, afirmou o humorista, no seu sotaque de Pernambuco, acrescentando: "os espetáculos são para quem me consegue entender, 'show' para seres humanos que acham a minha comédia inteligível” e, por isso “não há tabus”.
Licenciado em jornalismo e a fazer stand-up desde 2008, Rodrigo Marques viu a sua popularidade crescer durante a pandemia, através dos vídeos nas redes sociais: “Eu não sei muito bem como é que isso aconteceu, as pessoas estavam sem nada que fazer…”, comenta.
Rodrigo Marques insere-se numa nova geração de humoristas brasileiros que chegaram do 'stand-up' e dos clubes de comédia, contrariando a tradição do humor de bordão, mais associado a programas de televisão.
“Tem workshop, tem livros, então a gente está atalhando, muita gente adquirindo conhecimento e está evoluindo, pelo menos no 'stand-up', acho que a gente tem ótimos comediantes no Brasil hoje, a nível mundial”, sublinhou o pernambucano.
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