As limpezas estão ao rubro no piso térreo do mítico número 68 da Avenida 24 de Julho, em Lisboa, onde outrora funcionou a discoteca Kapital (até 2012), passando a Main (até 2017) e Mome até a pandemia de COVID-19 lhe fechar portas, em março de 2020.
A terceira fase do atual processo de desconfinamento começou às 00h00 de hoje, altura em que os espaços de diversão noturna puderam voltar a abrir portas com a apresentação, pelos clientes, do certificado digital de vacinação contra a COVID-19 ou teste negativo.
Este foi o único setor de atividade que esteve sempre fechado desde o início da pandemia, em março de 2020.
A um canto, à entrada, está embalado um lote de copos de vidro empilhado ainda em caixas, mudam-se algumas coisas de sítio, e as almofadas dos bancos que rodeiam o piso do clube de dança ainda não estão colocadas.
Além do chão, também as paredes são aspiradas, as partes espelhadas em redor das grandes ventoinhas embutidas na parede limpas várias vezes até ficarem imaculadas, assim como os balcões onde logo à noite vão ser pousados os primeiros copos de bebidas.
Os vários braços que se ocupam das limpezas não têm mãos a medir. O aspirador, que é rei da pista, vai dar lugar aos clientes, talvez 800 na melhor das hipóteses, confessou João Magalhães, um dos sócios-responsáveis do espaço, frisando que não quer que a lotação de perto de 1.200 pessoas fique completa na primeira noite.
“Nós vamos dar tudo. Fomos muito massacrados, com 19 meses de muito sofrimento, de resistência inglória, deu-nos maturidade e perceber o problema grave que havia”, começou por dizer o empresário, que pediu ajuda às pessoas que querem voltar a dançar porque, se não ajudarem, os “empresários não vão conseguir controlar tudo”.
O responsável referiu ainda que, apesar da importância que vai ser dada à questão da lotação, as situações de cedências de entrada de um, dois ou três clientes, levam muitas vezes a que “descambe aquilo que estava desenhado”, mas reconhece que será “sempre melhor do que entrar no metro ou num transporte público”.
João Magalhães reconhece que foram dias de “enorme alegria e de um pesadelo a sair de cima das costas” quando finalmente o primeiro-ministro, António Costa, anunciou que as discotecas poderiam abrir no dia 1 de outubro.
“Sabemos que a pandemia ainda não acabou, ainda há muito para combatermos, sabemos que é uma atividade que, no fundo, o que fazemos é animar pessoas, pô-las alegres, juntá-las, abraçá-las, fazer dançar, a nossa atividade junta tudo isso, é isso que sabemos fazer e muitas vezes não coincide com o estado pandémico em que nós estamos”, sublinhou.
No fundo, João Magalhães partilha do sentimento daqueles empresários com quem tem falado: que “tudo corra bem num setor que foi tão massacrado”.
“Desde o início da pandemia fomos super-responsáveis. A atitude de encerrar os espaços foi voluntária. Falámos entre nós, antes de ter havido qualquer anúncio por parte do Governo, acerca de encerrar e percebemos que tínhamos de o fazer”, afirmou.
João Magalhães lamentou que as discotecas não tivessem aberto mais cedo, mesmo com mais restrições, frisando que isso teria evitado que acontecessem “tantas festas ilegais” como aquelas que aconteceram um pouco por todo o país, alertando para alguma “concorrência desleal” que ocorreu.
O responsável lembrou que houve agora um especial cuidado com a renovação de ar dentro dos três pisos do edifício, recordando a importância nesta fase de as pessoas se sentirem arejadas.
Outra mudança são os copos, que passam a ser de vidro, o que deixa para trás os de policarbonato (plástico endurecido) e obriga a “uma gestão de manutenção dos copos mais cuidada”, tendo em conta a pandemia.
“Temos a noção que é uma tarefa de grande responsabilidade devolver o voto de confiança que o Governo nos deu sem grandes restrições, temos de agarrar a oportunidade com unhas e dentes e fazer cumprir”, salientou, apelando a que todos sejam responsáveis e cumpram com as regras.
João Magalhães reconheceu que o Mome tem uma característica diferente de uma discoteca normal, já que o edifício tem três ofertas em termos de ambiente: “pode chegar às 19h30, jantar, depois descer para o piso intermédio, para o bar um pouco mais agitado, o que chamamos de dançante e depois, se a noite está mais embalada, se o travão de mão já não existe, acaba no clube onde toda a gente quer é divertir-se a dançar no escurinho”.
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