Depois do “monumental e deslumbrante” romance “A Nossa Parte da Noite”, publicado em 2020, a autora volta agora aos contos em “Um Lugar Luminoso para Gente Sombria”, que chegou esta semana às livrarias portuguesas, segundo a Quetzal, que edita a sua obra em Portugal.

Deste livro poderia dizer-se “da Argentina, com terror”, porque Mariana Enriquez regressa a este género, “que maneja com suprema mestria e reinventa a cada novo livro”, nas palavras da editora.

As suas histórias passam-se na Argentina, principalmente em Buenos Aires ou arredores, e exploram o medo, o terror, a violência como algo inerente àquele contexto social, económico e político, mas também pessoal, suscitando no leitor uma proximidade e identificação que o impede de se sentir tranquilo.

São doze “magníficas histórias arrepiantes” – muitas delas com finais ambíguos ou abertos -, em que o mal (ou o monstruoso), o macabro, o surreal e o sobrenatural irrompem de realidades quotidianas, alterando-as para sempre.

Um dado curioso é que “As Coisas que Perdemos no Fogo”, primeiro livro de Mariana Enriquez editado em Portugal (2017), também era composto por doze contos, assim como “Los peligros de fumar en la cama”, um dos seus mais famosos livros, não editado em Portugal.

Nesta sua nova obra, encontram-se temas que são caros à autora e outros que refletem a atual realidade do país, como a pós-pandemia, a crise económica, o aumento de pessoas a viver nas ruas, o aumento da violência, franjas da cidade de Buenos Aires tomadas por traficantes e bandos de delinquentes.

Mas também há famílias disfuncionais, ódio, violência, superstição e fantasmas: fantasmas vingativos e cheios de raiva, fantasmas violentos, fantasmas tristes, fantasmas inconscientes da sua situação, que repetem os comportamentos que tinham em vida.

Na história que abre o livro, “Os Meus Mortos Tristes”, uma mulher convive com a mãe morta e tenta manter na linha os fantasmas que vagueiam por um bairro periférico de Buenos Aires, que foi ficando cada vez mais feio e violento e se tornou “uma ilha”.

O conto que dá nome ao livro centra-se numa rapariga que apareceu afogada num tanque, num hotel da Baixa de Los Angeles, e numa jornalista argentina que vai investigar esta célebre história e se depara com outra lenda da cidade.

O conto “Olhos Negros”, que encerra o livro, é uma história que aborda a pura maldade, através de duas crianças de aterradores olhos negros que vagueiam sozinhas à noite na cidade e perseguem voluntários que distribuem alimentos num bairro carenciado.

Nas páginas de “Um Lugar Luminoso para Gente Sombria” também se encontram pássaros que vivem na margem de um rio e que outrora foram mulheres, um casal que vai ver uma exposição numa estação abandonada e acaba por viver o terror quando conhece o artista, e temas como a obsessão com o corpo doente, o feminino e o lugar das mulheres na sociedade, a família, e o legado da repressão política que perdura.

Nascida em Buenos Aires, em 1973, Mariana Enriquez é professora, jornalista, romancista, contista e colaboradora pontual de revistas como The New Yorker, Granta, McSweeney’s e Eletric Literature.