A campanha tem presença sobretudo online, através da divulgação de vídeos onde são recriadas ‘rap battles’, batalhas entre rappers, nas quais habitualmente são trocadas ofensas e insultos, “à semelhança do que acontece na relação entre o autor do crime de ódio ou de violência discriminatória e a vítima que sofre desse crime ou ato de violência”, explicou, em declarações à Lusa, Mafalda Valério, gestora de projetos da APAV.
Mas, “nesta campanha, a luta é contra o ódio” e, por isso, as vítimas ouvem “palavras de respeito”.
“O que acabámos por fazer foi pegar no conceito [das ‘rap battles’] e subvertê-lo, tornando as palavras de ódio e os insultos em palavras de respeito e promotoras da integração”, referiu.
A campanha arrancou a 26 de setembro, com a divulgação de um vídeo no qual o rapper Malabá se dirige a pessoas que representam “minorias étnicas, a comunidade LGBTIQ+, minorias religiosas e migrantes e refugiados”.
Entretanto, a 1 de outubro foi divulgado o vídeo no qual Ace, dos extintos Mind Da Gap, diz a um jovem negro frases como “mandam-te para a tua terra como se não fosse esta”, “racismo é inveja, medo, fraqueza, complexo” e “sou pela diversidade e união pelo amor”.
“Nasceste assim para pôr fim ao preconceito”
Esta semana, a APAV difundiu um terceiro vídeo no qual se ouve M7 (Marta Bateira/Beatriz Gosta) dizer a uma mulher transexual: “acredita em ti, em ti tudo é perfeito, nasceste assim para por fim ao preconceito”, “o direito à liberdade não tem sexo, credo ou cor, quem diz que é promiscuidade sabe zero de amor”, “quem te chama doente, por viveres a verdade, só mostra que é urgente mudar esta sociedade”.
Segundo Mafalda Valério, a campanha é composta por “um total de cinco vídeos, que abordam as várias vítimas e as várias formas de vitimização”.
O próximo vídeo a ser divulgado, na próxima segunda-feira, foca-se no ódio e intolerância religiosa.
O rapper escolhido para abordar o tema foi Papillon, dos Grog Nation, que recentemente editou um álbum a solo. Na letra, tentou “juntar as crenças de todas as pessoas”. “Porque acredito que no final do dia estamos todos a remar para o mesmo lado, só que temos perspetivas diferentes da mesma ideia. Não há razão para haver discórdia em algo em que todos acreditamos, no final do dia todas as pessoas têm fé. Isso foi o que eu quis realçar”, adiantou em declarações à Lusa.
Papillon sentiu que “fazia sentido dar a cara e a voz pela causa". E quanto ao ‘ódio’ sobre o qual lhe coube escrever, defendeu que “castrar a fé dos outros, seja pela forma como vestem, comem, ou outra coisa qualquer, não é correto”.
O último vídeo, focado no ódio a imigrantes e refugiados, será divulgado a 22 de outubro, e terá como protagonista Estraca.
A presenta desta campanha da APAV é “sobretudo online”, na plataforma de partilha de vídeos Youtube e na rede social Facebook, mas, segundo Mafalda Valério, “há também posters, folhetos, que serão utilizados posteriormente em ações de sensibilização junto das comunidades que são público vulnerável aos crimes de ódio e à violência discriminatória”.
Além disso, a APAV está “a trabalhar no sentido de conseguir que os vídeos passem em 'spot' televisivo”.
A campanha Respect Battles ("Batalhas de Respeito", em português) faz parte do projeto “Ódio Nunca Mais: Formação e Sensibilização para o Combate aos Crimes de Ódio e Discurso de Ódio", que conta com o cofinanciamento do Programa Direitos, Igualdade e Cidadania/Justiça da União Europeia, com a parceria nacional da Polícia Judiciária e da Procuradoria-Geral da República, bem como com a parceria associada da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, e ainda com organizações europeias parceiras - Faith Matters (Reino Unido), Solidarci (Itália), Swedish Crime Victim Compensation and Support Authority (Suécia), Victim Support Austria (Áustria) e Victim Support Malta (Malta).
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