“Agora posso fazer jornalismo, dedicar-me a serviços de beneficência, responder às cartas que me escrevem e viver sem pressões. Não esqueçamos que 78 anos é uma boa idade para uma pessoa se reformar. A maior parte das pessoas estão reformadas aos 78 anos. Não se pede a um padeiro para continuar a fazer bolos e pães até ao fim da vida. Já me disseram: ‘você não vai ser capaz de parar de escrever’. Claro que posso”, declarou à Lusa Frederick Forsyth.

O autor afirmou que desistiu de escrever: "‘A Lista da Morte’ (2013) foi o meu último romance e depois decidi escrever estas memórias que é o único livro de não-ficção depois de ‘A História da Guerra do Biafra’ (1969). Decidi, por isso, que as memórias são a minha última canção”.

“Acho que tive uma boa vida, creio que não fiz mal a ninguém. Não matei ninguém, vi o mundo e cheguei a algumas conclusões. Sempre me interessei por política durante toda a minha vida. Alguns momentos foram autênticas aventuras em que podia ter sido morto, mas tive sorte. Quando olho para trás sinto satisfação porque aproveitei e disfrutei da vida e agora restam-me talvez 10 anos, antes de partir”, desabafou o romancista.

No livro “A Minha Vida na Intriga Internacional” (2015), publicado este mês em Portugal, Forsyth recorda a infância no sul de Inglaterra, a família, o serviço militar como piloto da Royal Air Force nos anos 1950, o trabalho como repórter em Paris, Berlim Leste ou no Biafra, os detalhes sobre o golpe de Estado na Guiné-Bissau em 2009 e até os contactos que manteve durante duas décadas com o MI6,os serviços de informações britânicos.

“Durante a Guerra Fria era normal.Isso é o que eu chamo um favor. Quando um dia ‘eles’ me perguntaram se podia trazer um envelope eu disse que sim. Na verdade, também podia ter dito que não. Não recebia dinheiro nem nada. Só o fiz pelo meu país”, disse acrescentando que, por outro lado, não queria perder “boas histórias” atrás da Cortina de Ferro.

Forsyth escreveu o primeiro romance, “Chacal”, em 1971 quando se encontrava desempregado sendo que a história do mercenário britânico que tenta matar o presidente francês Charles De Gaulle a soldo da OAS (Oraganization de L'Armée Secrète) transforma-se num êxito que acaba por mudar a vida do antigo jornalista para sempre.

“Eu não sabia como fazer, não aprendi nada sobre como escrever um livro. Eu apenas escrevi de forma instintiva como se fosse um longo despacho jornalístico enviado por um correspondente estrangeiro. Paralelamente, fiz muita pesquisa e, na altura, não me apercebi que tinha criado um protagonista sem nome que fascinou os leitores”, recordou.

O escritor frisou também que a alcunha “Chacal”, que acabou por ficar ligada ao famoso “terrorista comunista“ de origem venezuelana “Carlos”, foi “uma coisa muito estranha” criada pela imprensa britânica depois de se descobrir que Ilich Ramirez Sanchez ocupou um apartamento alugado em Londres depois de ter realizado vários atentados em Paris, em 1975.

“Um dos repórteres viu o livro ‘Chacal’ numa das prateleiras do apartamento e pensou que tinha sido deixado por ‘Carlos’, mas não. O livro pertencia ao novo inquilino”, esclareceu à Lusa o escritor, que recordou com amargura “as guerras de escritório” na BBC durante a Guerra do Biafra e que o levaram a afastar-se do jornalismo.