A 29 de novembro de 1941, aos 13 anos, Eunice Muñoz estreou-se profissionalmente no Teatro Nacional D. Maria II, na peça “Vendaval”, de Vírginia Vitorino, no papel de Isabel, numa encenação de Amélia Rey Colaço.
O espetáculo, que assinala os 80 anos de estreia da atriz de 93 anos, tem início marcado para as 16h00, num dia em que haverá também uma homenagem a Eunice Muñoz, disse à Lusa fonte do D. Maria II, sem avançar mais pormenores.
Estreada em abril último, em Oeiras, no auditório municipal com o nome da atriz, e depois de uma digressão por várias cidades portuguesas, a peça voltou ao palco onde se estreou, para nove representações, de 3 a 26 de setembro passado.
Com texto do autor alemão Franz Xaver Kroetz (1946), a peça revela-se "uma longa didascália", "sem monólogo e sem diálogo", no qual a senhora Rasch, personagem partilhada pelas duas atrizes, convida os espectadores a assistirem a um final de tarde num dos seus dias repetidos, igual a todos os anteriores.
Com música original de Nuno Feist e encenação de Sérgio Moura Afonso, “A margem do tempo” põe diante do público a humanidade de uma mulher mais velha, Eunice Muñoz, que vai relembrando a monotonia dos dias repetidos, que se materializam numa mais nova senhora Rasch, Lídia Muñoz, que vai caminhando em direção ao seu "eu mais soturno e nostálgico".
Numa leitura mais superficial, a peça pode parecer centrar-se em coisas banais, mas, com o decorrer da ação, acaba por se perceber que nada há de trivial no que é posto em palco e que marca o quotidiano de tantas mulheres operárias.
A peça assinalou o regresso da decana das atrizes portuguesas ao teatro após um afastamento dos palcos desde 2012, quando viu cancelada a reposição, no Teatro D. Maria II, de "O comboio da madrugada", de Tennessee Williams.
Encenada por Carlos Avilez, a peça do dramaturgo norte-americano estreara no ano anterior, no Teatro Experimental de Cascais (TEC), assinalando os 70 anos de carreira da atriz. Na altura dos ensaios no D. Maria II, a atriz caiu, fraturou os dois punhos e lesionou a cervical, impedindo a estreia, naquela sala no Rossio, de Eunice Muñoz no papel de Flora Goforth, uma antiga artista de variedades milionária, num elenco em que já pontuava a neta.
Para a atriz que personificou peças como "Outono em flor", de Júlio Dantas (1948), "Espada de Fogo", de Carlos Selvagem, com Palmira Bastos, ou comédias como "Ninotchka" (1950) de Melchior Lengyel, ao lado de Igrejas Caeiro, e "A loja da esquina" (1951), de Edward Percy (ambas celebrizadas no cinema por Ernst Lubitsch), a nova produção "A margem do tempo" representa uma entrega da carreira "mãos da neta".
"Por ter a maior confiança nela", por ter "a certeza de que ela vai fazer uma carreira", reconhecendo-lhe "muito talento", e sublinhando que "é uma grande satisfação tê-la" ao seu lado, acrescentou a atriz, numa entrevista à Lusa.
Sobre a escolha da peça, que Eunice Muñoz admitiu ter sido "um desafio" e que gosta muito de a representar, por nunca ter interpretado nenhuma "sem falas", a neta Lídia sublinhou a "dificuldade" sentida por todos em encontrar um texto que Eunice Muñoz nunca tivesse feito em 80 anos de carreira e que a desafiasse.
Ambas sublinharam o "brilhante trabalho" que o encenador Sérgio Moura Afonso teve em adaptar para duas atrizes o texto que o autor alemão concebera para um monólogo.
Sobre o facto de voltar a trabalhar ao lado da avó, agora numa peça apenas para as duas, a jovem atriz, que tem feito vários trabalhos no teatro, desde ponto a assistente de encenação considerando todos importantes, disse ter optado pelo teatro "para fazer o seu caminho".
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