"O fado está na moda e mais agora entre a juventude da Califórnia que outra coisa", afirmou o artista, filho de um casal de açorianos que emigrou para São José. "Há quem cante muito bem o fado aqui na Califórnia".

O seu álbum "Palco da Vida", lançado em 2018, esteve na lista de trabalhos qualificados para nomeação aos prémios Grammy do ano passado. "Chegar a ponto de poder ser nomeado já foi caso de louvar", disse David Silveira Garcia, de 39 anos

"Consegui apresentar o meu trabalho na comunidade americana dos Grammys e dar a saber que existe fado e música portuguesa nos Estados Unidos".

Entre as faixas do álbum estão os fados "Cantar de Emigração", "Adeus Açores" e "A Marcha da Bica".

Em ano de centenário do nascimento de Amália Rodrigues, a promoção do fado junto dos norte-americanos é uma das ambições de Garcia, que está agora a trabalhar em novas canções com o músico Helder Carvalheira.

"Nada mais fácil que música para promover uma cultura. A música é uma linguagem universal, a pessoa não precisa de perceber o que é que o fadista está a cantar para sentir", afirmou o artista, identificando Fernando Farinha como inspiração número um.

Antes do fim do ano, Garcia e Carvalheira querem lançar dois a três fados novos. O objetivo que temos agora é marcar presença digitalmente, fazendo músicas originais e vídeos", disse, ressalvando que o trabalho está condicionado pelas limitações impostas por causa da pandemia de COVID-19.

"Queremos lançar trabalhos em conjunto para divulgar músicos e talento", afirmou. "Queremos mostrar o fado da Califórnia".

Era isso que o fadista e os músicos que o acompanham estavam a fazer através de uma parceria com o restaurante português de Telmo Faria em São Francisco, o Uma Casa, onde organizavam noites de fado a cada três meses.

"A promoção que fazemos com esse espetáculo é mais para a comunidade americana, são pessoas que já ouviram falaram de fado, que estiveram em Portugal e vêm reviver a memória da noite de fado que tiveram em Lisboa", explicou. "O Telmo faz isto pela paixão do fado e para ajudar a promover a música e a cultura".

Agora, por causa da pandemia, quase todos os concertos foram cancelados, incluindo as participações nas Festas portuguesas por toda a Califórnia, onde Garcia aproveitava para vender cópias do seu álbum.

No início do confinamento, Garcia ainda considerou a possibilidade de transmitir concertos ao vivo, mas a ideia foi abandonada. "Logisticamente não funciona, devido aos delays que existem nas plataformas", explicou. "O guitarrista, o viola e eu em casas diferentes não encaixa. Experimentámos várias maneiras mas não dá para fazer um show ao vivo".

Com a Califórnia a reverter as fases de reabertura devido à explosão de infeções por COVID-19 no último mês, as perspetivas são pessimistas. "Tenho três atuações no fim deste ano que ainda não foram oficialmente canceladas, mas duvido muito que isso aconteça, a não ser que as coisas mudem drasticamente", disse o fadista.

Enquanto a situação não melhora, Garcia está a trabalhar nos novos fados e pretende que um deles seja evocador de esperança, apesar do que se está a passar no mundo. "O fado não é só triste, tem muitas emoções", considerou.

Para ele, subir ao palco é um sonho concretizado. "Desde criança que ouvia fado nos giradiscos lá em casa", lembrou. "Muitas vezes ouvia às escondidas, porque era estranho um jovem nascido e criado aqui ouvir fado".

David Silveira Garcia é bilingue e tem a capacidade de escrever os fados em português, o que é mais difícil de encontrar na comunidade lusodescendente que virtuosos da viola e baixo. O que o fadista apontou, todavia, é que não há muitos músicos que saibam tocar bem a guitarra portuguesa.

Os trabalhos de David Silveira Garcia, "Fado d'Alma Lusa" e "Palco da Vida" estão disponíveis nas plataformas de streaming, Amazon, iTunes e CD Baby.