Este é outro capítulo difícil para o rapper e magnata da moda que já foi aclamado como um gºenio artístico, mas cuja teimosa inconformidade o fez levar a liberdade de expressão ao limite.
Durante a última Semana de Moda de Paris, West, também conhecido como "Ye", usou uma t-shirt com a frase "White Lives Matter" ("Vida Brancas Importam"), uma distorção do famoso slogan "Black Lives Matter", símbolo dos protestos antirracistas de 2020 nos Estados Unidos.
Poucos dias depois, as suas contas no Instagram e no Twitter foram suspensas após partilhas de mensagens consideradas antissemitas, que faziam referência a teorias da conspiração sobre a suposta influência da comunidade judaica.
"Vou usar-te como exemplo para mostrar ao povo judeu que disse para me ligarem que ninguém me pode ameaçar ou influenciar", escreveu West numa conversa com o rapper Diddy, que criticou a sua t-shirt.
Inúmeras celebridades denunciaram os comentários do rapper, que incentivam o "ódio aos judeus", de acordo com o Comité Judaico Americano (AJC, na sigla em inglês).
Imprevisibilidade
Após o escândalo gerado pela sua t-shirt, West concedeu uma entrevista à Fox News, o canal favorito dos conservadores. Tudo ficou ainda mais controverso quando a revista Vice publicou excertos inéditos da entrevista nos quais o rapper fazia declarações ligadas a teorias da conspiração racistas.
As consequências dos comentários de West também foram sentidas nos seus negócios.
O artista, que já tinha encerrado abruptamente a sua colaboração com a Gap em setembro, viu a sua associação com a Adidas questionada. A marca evocou a necessidade de "respeito mútuo e (de) valores partilhados", alguns dias depois da polémica, sem mencionar diretamente o incidente.
As últimas polémicas somam-se a uma longa lista que, de pouco a pouco, vão ofuscando o seu talento.
O rapper de 45 anos, que já se comparou, sem ironia, a Michelangelo, subiu ao estrelato em 2004 com o álbum "The College Dropout", no início de uma carreira magistral em que combinou rap com elementos de soul e electro.
A sua imprevisibilidade valeu-lhe críticas, mas a sua honestidade também foi muito reconhecida. Especialmente em 2005, quando criticou a resposta do presidente George W. Bush ao devastador furacão Katrina.
No entanto, as suas declarações têm-se tornado cada vez mais bombásticas e polémicas com o passar do tempo.
Após o lançamento do álbum " "The life of Pablo", em 2016, West sofreu com problemas de saúde mental - como o transtorno bipolar, sobre o qual já falou publicamente - e desapareceu da vida pública por alguns meses.
Embora no passado a imprensa tenha mostrado uma certa benevolência ao relembrar as suas lutas com a saúde mental, a opinião pública parece estar a mudar a sua percepção.
Num artigo do New York Times, o colunista Charles Blow chamou "Ye" de "narcisista viciado em atenção e elogios".
"Ele participa na sua tortura. Ele cura-a e utiliza-a. Uma parte talvez seja natural, mas outra parte é inventada, para reforçar a lenda", disse.
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