A 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, o Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa, uniu-se à Amnistia Internacional na luta contra a violação dos direitos humanos. Tendo como principal objetivo divulgar as diferentes ações levadas a cabo pela a Amnistia Internacional,  a terceira edição do Live Freedom convidou as bandas Linda Martini e Xutos e Pontapés e o comediante Ricardo Araújo Pereira (RAP) para se juntarem à causa.

Coube ao ex-gato fedorento, numa primeira parte da noite, dar as devidas informações e incentivar, de uma maneira divertida, o público a usufruir do conteúdo do pequeno envelope que estava colado em cada cadeira. Esses envelopes diziam respeito à iniciativa Maratona de Cartas: promoção do envio massivo de cartas para autoridades de diversos países, em protesto contra ataques aos direitos humanos.

Não deixando em casa o seu sentido de humor, RAP fez a comparação do processo de alimentação de um bebé (alternar a sopa com a papa) à noite que estava prestes a começar, sendo que ele seria a sopa ("a parte pior da refeição") e as bandas convidadas seriam a papa. Para além desses momentos de pura diversão, o humorista fez questão de dar o exemplo e assinar a inscrição à frente de toda a plateia.

Logo depois, os Linda Martini subiram ao palco. A banda, que já carrega anos de experiência, mostrou algum distanciamento do público que os aplaudia entusiasticamente. Além disso, e tendo em conta que a sala onde nos encontrávamos não tem as melhores condições acústicas para este tipo de eventos, as batidas incessantes da bateria conseguiam abafar o som das guitarras e da voz. Esta última, que se ouvia durante pouco tempo, mostrava-se, aliás, bastante aquém do resto do trabalho feito pela banda.

Algumas canções, como “Belarmino Vs.”, “Febris” e “Ratos”, foram escutadas com euforia e entusiasmo por parte da plateia que aparentava estar a delirar com o concerto, juntando-se aos músicos em “Amor É Não Haver Polícia” através de um alto e perfeito coro que não se queria calar.

Seguiu-se outro momento de “sopa” dada por Ricardo Araújo Pereira. O comediante ocupou os quinze minutos destinados à preparação do palco para os Xutos e Pontapés, facto que o levou a acusar os artistas de “comichosos” – “Eles estão a tirar os instrumentos dos Linda Martini para colocar os instrumentos dos Xutos e Pontapés, mas estes são exatamente iguais! É por isso, por os artistas serem comichosos, que tenho de estar a engonhar!”.

E foi isso mesmo que fez, “engonhar”, através de novos apelos para as inscrições na Amnistia Internacional ou com piadas relacionadas com temas atuais sobre os nossos políticos ou ex políticos. Depois do seu discurso planificado, ainda houve lugar para algum tempo de perguntas e respostas. Iniciou-se então a chuva de questões da plateia, uma delas referente ao regresso tão desejado dos Gatos Fedorento, ao que este respondeu: “O Zé Diogo tem 25 padarias, o Tiago casou agora, o Miguel tem filhos para cuidar, eu… casei há alguns anos, logo… já não tenho nada para fazer! É por isso que eu estou aqui hoje!”. As cortinas abriam enquanto Ricardo Araújo de Pereira ainda contava as suas divertidas histórias do seu tempo de jornalista e nós, apesar do rumo da conversa ter fugido ao tema principal da noite, não parecíamos minimamente incomodados.

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Seguiu-se a banda que dispensa qualquer tipo de apresentação, os Xutos e Pontapés!

“E há 10.000 anos atrás” era a frase gravada que se ouvia em repeat enquanto a banda entrava em palco e se posicionava nos devidos lugares. Uma gravação que se seguiu da mesma música ao vivo, música integrante do seu novo álbum, “Puro”, mas que, mesmo assim, não deixou as pessoas indiferentes à sua melodia enérgica e já tão bem conhecida.Também com poucos diálogos para o público, seguiram-se muitas mais músicas do  novo disco intercaladas com alguns clássicos como “Remar remar”, “Jogo do Empurra”, acabando com a "Maria” que tanto gostamos e “À Minha Maneira,” como não podia deixar de ser.

Obviamente que esta pequena atuação soube a pouco, já que, como estamos habituados neste tipo de eventos, é precisamente no momento em que o ambiente começa a aquecer que o espetáculo termina. Contudo, para algumas famílias, este acabou muito mais cedo, já que, durante o concerto dos Xutos, vimos algumas a abandonar o recinto devido à hora tardia numa noite de semana.

A estes veteranos da música portuguesa nada há a acrescentar ou a apontar, ficando apenas a tristeza por não termos ido para casa a cantarolar músicas como “O Homem do Leme” ou “Os Contentores”. Nada que traia as boas memórias - e causas - da iniciativa.

Fotos: Joana Jesus