Escritas entre 1867 e 1910, estas notas de viagens, que passam por Espanha, Argentina, França, Alemanha e Itália, foram compiladas originalmente em dois tomos, mas nesta edição da Quetzal surgem condensados num só volume, repondo nas livrarias, a partir de sexta-feira, um “clássico contemporâneo” que não era publicado desde 1952.
“As grandes descrições e narrativas do escritor inventaram a moderna literatura portuguesa de viagens, emprestando-lhe cosmopolitismo, alegria e luxúria – e um picante de humor e ironia que só Ramalho pôde conhecer”, descreve a editora.
Nas descrições e narrativas de Ramalho Ortigão revela-se um “evidente apreço pelo detalhe, bem como o seu deslumbramento pelas cidades e paragens que visita”, acrescenta a Quetzal, destacando o caráter simultaneamente romântico e cosmopolita do autor de “As Praias de Portugal” e de “As Farpas”.
“Viajante culto e informado, desejoso da companhia do leitor”, os seus textos “são visuais, enaltecem a paisagem (descrevendo-a em pinceladas fortes), elogiam os costumes e os hábitos estranhos, constroem um ideal de civilização onde o homem é substituído pelo ‘gentleman’ e a curiosidade é tão eterna como as paragens por onde nos leva, concebendo-se a si mesmo como ‘um risonho fantasma de pé leve’”.
A Quetzal recuperou a obra de Ramalho Ortigão a partir do livro “Praias de Portugal. Guia do Banhista e do Viajante”, que publicou em 2014.
Posteriormente, já na sua coleção de literatura de viagens, “Terra Incógnita”, lançada no ano passado, publicou o “belo livro” sobre as termas portuguesas “Banhos de Caldas e Águas Minerais”, e planeia publicar mais dois livros de viagens deste escritor que foi o grande companheiro de Eça de Queirós.
Segundo a Quetzal, chancela do grupo Bertrand Círculo, “Terra Incognita” pretende destacar-se das demais coleções de literatura de viagem, não só através de um formato especial, mas sobretudo apostando em títulos e autores que “desprezam a ideia de turismo” e fazem da viagem um modo de conhecimento.
O escritor português Ramalho Ortigão nasceu no Porto, em 1836. O mais velho de nove irmãos, cresceu numa quinta com a avó materna e com a educação a cargo de um tio-avô. Cursou direito na Universidade de Coimbra mas foi no jornalismo, em diversas colaborações, que se iniciou na escrita.
Terá sido nos seus 18 volumes de “As Farpas” que Ramalho Ortigão “estudou e pintou o seu país”, como escreveu Eça de Queirós (que também assinou a sua parte em "Uma Campanha Alegre"), mas é em livros de viagem, como “As Praias de Portugal”, “A Holanda”, “Notas de Viagem”, “Banhos de Caldas e Águas Minerais” e mesmo “John Bull”, que o talento de Ramalho Ortigão emerge como o de um retratista notável, entre o erudito e o dândi, sempre com ironia e uma pincelada de cavalheiro das letras.
Com Eça de Queirós - seu antigo aluno, depois amigo, correspondente e parceiro no grupo Vencidos da Vida - escreveu “O Mistério da Estrada de Sintra”.
Morreu em Lisboa, em 1915.
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