Criticado por ter declarado que o partido União Nacional (Rassemblement national, RN, na sigla francesa) “talvez tenha o seu lugar na França” e “talvez seja uma experiência a tentar”, o ator e realizador Mathieu Kassovitz fustigou no domingo os 'idiotas' que o acusaram de promover o voto na extrema-direita e apelou ao 'voto' nas próximas eleições legislativas.

Voltando às reações suscitadas por um excerto da sua entrevista do dia anterior ao programa de informação LCI, o famoso realizador de "O Ódio" (1995), filme de culto sobre a violência policial, publicou um “extrato maior” no Instagram.

“Para todos os idiotas, imbecis e parvalhões que usam as mesmas ferramentas de propaganda dos fascistas e me acusam de ter declarado votar no RN”, comentou, convidando a “ver os 25 minutos completos no LCI” e a “votar na próxima semana”.

No sábado no programa do canal TF1, o também ator da série “A Agência Clandestina” sugeriu que não se iria manifestar em caso de vitória do RN nas eleições legislativas de 30 de junho e 7 de julho.

“Estarei com vocês de todo o coração, mas estou cansado (...) de fazer manifestações, é sempre o mesmo circo”, declarou.

“Critiquem-me, não sou realmente a favor (…), vou meter-me em sarilhos mas sou a favor da violência face à violência”, continuou o ator ainda de filmes como "Um Herói Muito Discreto" (1996)", "Assassino(s)" (1997, que também realizou), "O Fabuloso Destino de Amélie" (2001) ou "Munique" (2005).

“Sempre tive um pouco de medo pela chegada da Frente Nacional [antigo nome do RN] para ver qual é a verdadeira reação dos franceses”, acrescentou Kassovitz, que afirma não votar.

“Somos realmente o país dos direitos humanos ou tornámo-nos noutra coisa? Também é interessante, porque talvez nos tenhamos tornado outra coisa, e também temos de aceitar isso”, explicou.

“Talvez a FN tenha o seu lugar em França e talvez faça um trabalho melhor”, disse.

“De qualquer forma, talvez seja uma experiência a ser experimentada. (...) Nunca saberemos realmente quem somos se não tivermos passado por esta fase”, afirmou o artista, habituado a desabafos e tiradas mediáticas.

Nas redes sociais, alguns utilizadores acusaram-no de trair as minorias, enquanto outros pediram que se visse a entrevista na íntegra. Kassovitz explica que “votaria necessariamente à esquerda” se votasse e que “nunca compreendeu as pessoas que votam na FN”.

Seja como for, a sua intervenção distinguiu-se entre as posições públicas assumidas pela comunidade artística.

No domingo, mais de 800 profissionais da cultura e do cinema (Romane Bohringer, Gilles Lellouche, Cédric Klapisch, etc.) apelaram ao voto para bloquear a extrema-direita, num artigo publicado pelo jornal Le Monde.

Cerca de 500 personalidades, principalmente do mundo musical (Eddy de Pretto, Clara Luciani, etc.), também convocaram na sexta-feira a “obstrução” do RN e dos seus aliados, noutro fórum na revista Les Inrocks.