O mote do novo disco é “o mar e as suas tonalidades”, dividindo-se em duas partes, cada uma interpretada por um quarteto, como destaca o baterista, presente em cada um dos agrupamentos: o primeiro, Pacifico, conta com Carlos Barretto (contrabaixo), Abe Rábade (piano), com quem Barreiros trabalha desde 2014, e Ricardo Toscano (saxofone alto); o segundo, Abissal, a assinar a paisagem sonora em oito andamentos, é composto por Demian Cabaud (contrabaixo), Miguel Meirinhos (piano) e José Pedro Coelho (saxofone), músico que Barreiros reputa entre os melhores.

“Deste conjunto de excecionais músicos, com quem trabalho há muito tempo, o elo mais fraco sou eu”, disse à agência Lusa Mário Barreiros, músico que nos últimos 40 anos se tem ligado a vários trabalhos de referência na área do jazz e do pop-rock, tendo colaborado em mais de trezentos discos de diferentes artistas.

Refletindo sobre as questões ambientais marinhas, este álbum, uma criação coletiva, foi uma hipótese de Mário Barreiros se reencontrar com companheiros, com os quais ensaiava “de vez em quando” ou com quem se cruzava em concertos.

O álbum é composto por oito temas, os primeiros quatro “mais românticos” e, os restantes quatro, “mais profundos e reflexivos”.

“Só Tem o Corpo Memória”, abre o novo disco, seguindo-se “Aquática”, no qual se inclui uma guitarra acústica, tocada por Barreiros, “Narciso” e “Pacífico”, encerrando assim o primeiro quádruplo, interpretado pelo Quarteto Pacífico.

Seguem-se os temas tocados pelo Quarteto Abissal: “Arbol Negro”, “Bóia”, “Abissal” e “Rede”.

O músico realçou que a atividade pesqueira “é a grande responsável pela poluição marinha, nomeadamente pelo abandono das redes”.

Para Barreiros, este disco é “um documentário, que é um retrato real sobre a vida dos oceanos, e tornou-se no ponto de partida para esta criação coletiva, e assim foi nascendo este trabalho de duas ‘moods’ distintas, ora com o Quarteto Pacífico, com uma toada mais romântica, ora com o Quarteto Abissal, mais exploratório de águas densas e profundas. Este é um mergulho no misterioso grande azul, e na melhor das companhias".

Barreiros afirmou que sentiu a necessidade de não tocar sozinho, e adiantou sentir “alguma felicidade” com o resultado final, até porque “este é um disco que flui, mas marcado por preocupações ambientais”

“Eu adoro o mar e preocupa-me que seja tratado como lixeira”, disse o músico que vive numa praia do norte do país e fez eco de um alerta dado pelos biólogos marinhos segundo os quais, se não olharmos pelos oceanos, “não haverá peixe no mar depois de 2050".

“O mar ocupa 70% da superfície da Terra e alberga 80% de toda a vida terrestre”, referiu o músico.

Mário Barreiros participou do grupo Jafumega e, entre os nomes com quem colaborou, contam-se António Pinho Vargas, no álbum "Cores e Aromas", Rui Veloso em "Mingos & os Samurais", Pedro Abrunhosa em “Viagens”, Carlos Barretto em "Impressões", os Ornatos Violeta em "O Monstro Precisa de Amigos", Jorge Palma em "Norte" e Maria João e Mário Laginha no álbum "Undercovers".