Num comunicado hoje divulgado pelo gabinete, o ministro lamenta "profundamente" o desaparecimento da romancista e dramaturga, recordando as palavras da própria autora, que assumiu ter sempre defendido “ideias sociais”, e sublinhando que a política lhe esteve sempre presente, “com uma tão grande preocupação que chega à angústia”.
A tutela da Cultura recorda ainda que Natália Nunes colaborou com a imprensa ao longo de várias décadas e, em 2002, entregou à Biblioteca Nacional o espólio de seu marido, Rómulo de Carvalho, conhecido pelo pseudónimo de António Gedeão.
O comunicado acrescenta que a autora de vasta obra, da ficção ao ensaio, deixou na sua escrita a vida de todos, “com as suas frustrações, os seus projetos, sonhos, desejos, êxitos e malogros”, e ensinou ao país também que “não há escritor que possa afirmar que nas suas obras não haja experiência vivida, mas não há só isso”.
Autora dos romances "Regresso ao Caos" e "Assembleia de Mulheres", Natália Nunes, nascida em Lisboa a 18 de novembro de 1921, destacou-se ainda pelas obras "Autobiografia de Uma Mulher Romântica" e "Vénus turbulenta", também como dramaturga e ensaísta, e, como contista, com títulos como "Ao Menos um Hipopótamo", "As Velhas Senhoras" e "Louca por Sapatos".
Resistente antifascista, durante os anos de ditadura, e membro da direção da Sociedade Portuguesa de Escritores - encerrada pela PIDE, polícia política do regime, em 1965 -, era "considerada unanimemente uma das jovens mais bonitas da capital", como a definiu o seu marido, o escritor e pedagogo Rómulo de Carvalho (1906-1997).
Natália Nunes estreou-se na literatura em 1952, com "Horas vivas: Memórias da Minha Infância", a que se sucedeu "Autobiografia de uma Mulher Romântica" (1955).
Vivia então em Coimbra, onde fez o curso de Bibliotecária-Arquivista (1956), depois da licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas (1948), na Universidade de Lisboa.
No primeiro livro, "Horas Vivas", a escritora "reflete o ambiente quase medieval, dessa altura, na Beira Alta, onde fez a maior parte da instrução primária", destaca a Plataforma Escritores Online, do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Universidade de Lisboa.
A partir de então, a escrita esteve sempre presente na sua vida, a par do trabalho nas Bibliotecas da Ajuda e Nacional, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo e na Escola Superior de Belas-Artes, como bibliotecária e conservadora.
Em memórias, além do livro inicial, contam-se "Uma portuguesa em Paris" (1956) e "Memórias da Escola Antiga" (1981). É autora da peça de teatro "Cabeça de Abóbora" (1970).
A obra de ficção disponível da escritora está publicada na editora Relógio d'Água.
No ensaio, Natália Nunes escreveu ainda sobre Dostoievski, Raul Brandão, Augusto Abelaira, José Cardoso Pires, entre outros autores, sobretudo para as revistas Vértice e Seara Nova.
Traduziu Dostoievski, Tolstoi, Simonov, Elsa Triolet, Violette Leduc, Balzac e Roger Portal, para editoras como a Portugália, Edições Cosmos e Edições Aguilar, do Rio de Janeiro.
O corpo da escritora está desde as 16:00 na capela mortuária da Igreja de Santo Condestável, em Lisboa.
O funeral realiza-se na quarta-feira, a partir das 16:00, para o Cemitério dos Olivais, onde será cremada.
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