“É um disco muito à flor da pele, muito honesto e acerca do que foi a nossa vivência – enquanto grupo, enquanto indivíduos e enquanto sociedade – nestes últimos dois anos, dois anos e meio”, afirmou o vocalista da banda, Sérgio Pires, em entrevista à agência Lusa.
As “vivências” destes músicos nos últimos dois anos incluem o fim de uma banda, o início de outra e, tal como tantos outros profissionais da área da Cultura, um afastamento dos palcos, forçado por uma pandemia.
Em maio de 2019, os Diabo na Cruz anunciavam o seu fim, ao fim de dez anos de estrada, garantindo os 20 concertos que ainda tinham agendados naquele ano, mas já sem o vocalista Jorge Cruz.
Foi nessa última digressão que Sérgio Pires, João Pinheiro e João Gil cimentaram a decisão de criar os SAL.
“Enquanto músicos e amigos, e com a química que nos unia em palco, percebemos que ali não seria o fim de tocarmos juntos. Acabando a 'tour' decidimos avançar para um projeto novo, com os membros que alinharam na altura. A ideia não foi uma continuidade de Diabo na Cruz, apesar de mantermos músicos, timbres e influências presentes em nós”, recordou o vocalista dos SAL.
Além Sérgio Pires (voz e braguesa), João Pinheiro (bateria) e João Gil (baixo), fazem também parte dos SAL Daniel Mestre (guitarras), que era técnico de guitarras e ‘roadie’ de Diabo na Cruz, e Vicente Santos (teclados).
Desde que decidiram criar os SAL, meteu-se pelo meio uma pandemia, “com tudo de mau que trouxe, sobretudo para os músicos e para quem trabalha na área da Cultura”, e foi “um travão às primeiras intenções”, mas acabou também por ser “um momento produtivo” para alguns elementos do grupo trabalharem e amadurecerem algumas ideias “à procura de uma identidade” da banda.
“Quando de repente as coisas começaram a abrir e pudemos por fim gravar as nossas canções e estarmos juntos outra vez, a ensaiar e a conviver, fomos percebendo que a identidade de SAL não é mais do que a energia e a amizade e a cumplicidade que há entre os membros. A identidade são também fragmentos de cada um de nós enquanto músico”, referiu Sérgio Pires.
O músico descreve a banda como “um ser mutável”, assente as referências musicais dos seus elementos: “O rock independente, a música tradicional portuguesa, a música popular portuguesa”.
“É essa mescla toda, mas também há fragmentos de tantas outras coisas como alguma eletrónica, algumas coisas do universo do hip-hop ou da música mais urbana. Essa identidade vai-se formando e tem como base essa energia que nós temos enquanto músicos de palco, porque somos de facto músicos enérgicos em palco”.
Neste tempo, os SAL já compuseram “repertório suficiente para um segundo disco e talvez para começar um terceiro”.
Mas as canções que escolheram para “Passo Forte” são muito acerca dos momentos que os seus elementos viveram. “Que não se cinge só ao tempo de pandemia, mas também àquele final de Diabo na Cruz, aquela primeira fase quando a banda acaba e nós estamos um bocado à procura, em que há uma data de coisas que surgem, como questões de amizade, de confiança, de autoestima, de ansiedade com o futuro. Depois há a pandemia, que numa primeira fase amplifica essa ansiedade e esse medo do que aí vem e o disco reflete claramente isso”, revelou o músico.
Além da voz de Sérgio Pires, em “Passo Forte” ouvem-se também outras vozes.
O baterista, João Pinheiro, assume-se vocalista em “Mal Antigo” e Carlão junta-se a “Não sou da Paz”, que conta ainda com um coro de “vários amigos” dos SAL, que inclui os cantores Lilia Esteves, Pedro Puppe ou João Firmino.
“Passo Forte” conta igualmente com a participação em alguns temas dos músicos Bernardo Barata e Manuel Pinheiro, que também integravam os Diabo na Cruz.
O concerto de apresentação do álbum de estreia dos SAL está marcado para 16 de novembro, em Lisboa, no Teatro Maria Matos.
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