E por males, leia-se a chuva que teimava em aparecer. Mas quando a lenda norte-americana surgiu em palco, todas as nuvens se afastaram para dar lugar a uma noite amena em que se tocaram todos os hits, all night long, no EDP CoolJazz.

Lionel Richie
Lionel Richie

Mas escusado será falar das condições meterológicas, quando o que aqui se trata é de contar como correu mais uma noite de casa cheia no Parque dos Poetas, em Oeiras. Ainda assim, e como aconteceu em palco, é necessário antes contar como correu a primeira parte, a cargo dos Cais Sodré Funk Connection.

Numa verdadeira tentativa de transformar o recinto numa pista de dança, a banda lisboeta apresentou o novo álbum "Soul, Sweat e Cut The Crap", e verdade seja dita, bem que o vocalista, Silk, tentou animar o público, apelando muitas vezes que se pusessem de pé já que "pagaram bilhete ou tiveram convite e não é para ficarem sisudos". Com uma grande banda e uma grande voz a acompanhar, Tamin, a compor o resto do elenco, o Cais Sodré Funk Connection foram, de facto, o exercício de aquecimento ideal para uma noite que prometia.

E entre prometer e concretizar, demorou algum tempo. Isto porque a espera foi longa, e não estou a falar da ausência de 11 anos de Lionel Richie, quando actuou ali ao lado, no Estoril. Mas quando soaram os primeiros sons de "Running With The Night", dissiparam-se logo os anseios e as dúvidas. A noite não era para ser passada sentada, mas sim em pé, a dançar e a cantar (na medida do possível e de cada um).

Como o próprio nome da tour indica, "All The Hits, All Night Long", este concerto em formato best-of não teve propriamente um ponto baixo, pois com uma carreira tão longa e com tanto sucesso não faltou nada por contar, ou neste caso, cantar. Numa constante oscilação entre os sucessos mais dançáveis, como o Dancing on The Ceiling, e as mais românticas, neste caso, logo com a "Easy" no início, ficou comprovado que há uma relação apaixonante entre Lisboa e o norte-americano que tem, mas não parece, 66 anos.

Falar de Lionel Richie é também falar dos The Commondores, banda que integrou ao início dos anos 70. E verdade seja, os êxitos são também dele, e não podiam falar nesta noite. "Sempre que toco The Commondores, o público enlouquece", contou. "Brick House" e "Three Times a Lady" não podiam faltar, sendo que esta última foi o público que cantou e Lionel Richie ficou a observar com cara de quem não acreditava no que estava a ver. Já no início do concerto, aquando do "Stuck On You", outro dos momentos da noite, dissera: "Vejo aqui gente que sabe melhor as letras que eu próprio. Se eu erro, vejo pessoal a dizer que eu disse mal", afirmou, soltando risos por parte dos fãs.

Aliás, esta personalidade muito bem humorada fez constante toda a noite, já que por várias ocasiões disse mal do sabor do vinho que estava a beber, ao que da última vez acabou por desabafar "ainda acabo como o Stevie Wonder, mas não lhe digam que eu disse isto!".

Numa noite que marcou a despedida da tour do solo europeu, Lionel Richie prometeu uma surpresa. "Senhoras e senhores, há uns anos toquei uma música com uma senhora. Diana Ross!", exclamou, com o público a pensar que iriam assistir ao Endless Love em dueto. "Mas ela disse que não." Ainda assim, as "5.000" vozes fizeram esquecê-la com facilidade.

Para o fim, estavam guardados os temas mais célebres, como o "Hello" ou o "Say You (Say Me)", que com facilidade levava uma lágrima ao canto do olho alguns dos casalinhos ali presentes, ou então aqueles mais durões. E para terminar, o óbvio e afamado "All Night Long", com todo o público de pé a cantar e a dançar como não houvesse amanhã.

Ainda assim, nestas despedidas, houve espaço para o encore. E com Lionel Richie, vestido com um casaco branco, a fazer lembrar Michael Jackson, claro que não se esqueceu de tocar um dos grandes sucessos que teve com o malogrado cantor, o êxito "We Are The World". À saída, ouviu-se: "com um final assim, nem é necessário pedir mais", e de facto é uma verdade incontestável. Lionel Richie e companhia despedem-se de Portugal com o dever cumprido.