Ronan Farrow, de 30 anos, filho biológico de Mia Farrow e Woody Allen - ou "possivelmente" de Frank Sinatra - é o autor de artigos explosivos na revista The New Yorker que derrubaram o poderoso produtor de cinema Harvey Weinstein, denunciado por cerca de 80 mulheres por assédio, agressão sexual ou violação, acusado e à espera do seu julgamento.
Estas denúncias renderam-lhe este ano o prémio Pulitzer de serviço público, compartilhado com dois jornalistas do New York Times.
Empenhado em denunciar abusos
A sua luta em defesa do movimento #MeToo, nascido destes escândalos, não acabou aí: um dos seus artigos, no qual quatro mulheres relatam ter sido agredidas e abusadas pelo procurador-geral de Nova Iorque, Eric Schneiderman, provocaram a queda deste. E outros levaram à renúncia de Leslie Moonves, presidente da CBS e durante décadas um dos homens mais poderosos da televisão nos Estados Unidos.
No mês passado, Farrow e a jornalista Jane Mayer concentraram a sua atenção em Brett Kavanaugh, o candidato do presidente Donald Trump a juiz do Supremo Tribunal, e revelaram uma segunda denúncia contra ele por comportamento sexual indevido nos anos 1980.
A luta para acabar com a proteção de homens poderosos que abusam de mulheres tem, no caso de Farrow, um vínculo pessoal: há anos que a sua irmã Dylan afirma ter sido abusada sexualmente pelo pai de ambos, Woody Allen, quando tinha sete anos.
Mia Farrow denunciou publicamente o alegado abuso de Dylan durante uma uma disputa legal com Allen após a sua separação, quando descobriu que o cineasta tinha uma relação secreta com uma das suas filhas adotadas, Soon-Yi Previn, 34 anos mais nova do que ele.
A Justiça não encontrou elementos para condenar o realizador por abuso de menor, mas Mia, Ronan e quase todos os seus irmãos - 14 no total, incluindo Soon-Yi - cortaram relações com Allen.
Woody Allen "é meu pai casado com a minha irmã. Isso converte-me no seu filho e seu cunhado. Isto é uma grande transgressão moral", disse uma vez Ronan Farrow.
Allen nega as acusações
Em 2013, Mia Farrow afirmou que o pai do seu filho Ronan "possivelmente" seria Frank Sinatra. A declaração foi reproduzida rapidamente nos tablóides, mas depois a atriz a minimizou a questão, ao tweetar: "Olhem, somos todos 'possivelmente' filhos de Frank Sinatra".
"Devo tudo o que sou a Mia Farrow. É uma mãe devota que atravessou o inferno pela sua família, ao mesmo tempo em que criou um lar amoroso", escreveu Farrow em resposta a uma recente entrevista dada por Soon-Yi.
'O velho mais jovem'
"O velho mais jovem na sala": assim foi Farrow descrito pelo New York Times, há cinco anos.
Nascido em 17 de dezembro de 1987 em Nova Iorque e conhecido inicialmente pelo seu primeiro nome, Satchel, este homem com rosto de querubim, franja loira despenteada e grandes olhos azuis lia Kafka na escola primária.
Aos 11 anos já frequentava a Bard College, onde obteve o seu primeiro título universitário aos 15, uma licenciatura em filosofia.
Aos 16 entrou em Yale e aos 21 já trabalhava no Departamento de Estado, viajando com frequência ao Paquistão e Afeganistão com o lendário diplomata Richard Holbrooke. Depois foi assessor especial da secretária de Estado Hillary Clinton para assuntos da juventude mundial.
A partir dos 17 anos, o seu ativismo foi exercido no cargo de porta-voz da Unicef, sobretudo na defesa de crianças e mulheres afetadas pelo conflito em Darfur.
Após os seus anos como assessor diplomático, ganhou a prestigiada bolsa Rhodes da Universidade de Oxford. Quando voltou aos Estados Unidos, entrou no mundo do jornalismo como colunista de jornais reputados e foi ainda apresentador de um programa televisivo na MSNBC.
Além da inteligência, muitos elogiam a sua imagem. A revista People elegeu-o um dos homens mais sexy do mundo em 2013, e no mesmo ano a Vanity Fair colocou-o na sua lista dos mais bem vestidos.
Este ano, com Trump empenhado em reduzir os gastos em diplomacia, Farrow publicou um livro sobre o declínio da política exterior dos Estados Unidos, "War on peace: the end of diplomacy and the decline of American influence", para o qual entrevistou todos os secretários de Estado do país ainda vivos. A obra esteve na lista dos livros mais vendidos do New York Times.
Quando a NBC, para a qual trabalhava, negou apoiar a sua investigação sobre as denúncias contra Harvey Weinstein, Farrow encontrou na revista New Yorker um lar para os seus artigos.
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