A derradeira noite. O momento mais aguardado. Um recinto a rebentar pelas costuras. Eles vieram de Inglaterra. Estiveram 8 anos separados, desde 2001 até 2009. Senhoras e senhores, Skunk Anansie no Festival do Crato! A rouquidão foi certamente o resultado do diagnóstico pós-concerto. Um espetáculo de cortar o fôlego. Os céticos que se convençam: Skunk Anansie não foram areia a mais para o camião do Crato. Areia na proporção certa para um camião na potência máxima. A presença de britânicos no recinto não passou despercebida, dado o incremento do número de copos de cerveja espalhados pelo chão.
Mal o pano se abriu, os olhares convergiram todos para a vocalista Skin. Outra coisa não seria de esperar. A britânica foi caprichosa na altura de investigar o guarda-roupa. O traje espampanante emprestou-lhe umas certas feições do bonequinho da Michelin. Também cedo se desfez daquele peso porque precisava de liberdade para pôr cá para fora toda a energia. Conseguem imaginar uma retroescavadora com formas humanas? Eu também não conseguia. Até ontem. Ainda nem se tinham passado dez minutos e já ela andava a mergulhar na multidão como se esta fosse um insuflável. Dessa vez, o insuflável ainda estava em processo de enchimento e Skin teve de pôr a marcha a trás.
«Vocês são absolutamente fantásticos», disse. O Crato nunca tinha saltado tanto como ontem. "This is not a game" e "Yes it's fucking political" provocaram o tumulto total. Skin estava sorridente e, ao mesmo tempo, enraivecida. Em dados momentos, dava a sensação que queria desabafar com o público português. Se calhar, foi por isso que voltou à carga com mais um crowd surfing. Agora sim, o insuflável estava bem fornecido de ar. Ela deleitou-se. E as mãos deles tiraram proveito, claro. Pelo andamento das coisas, "Hedonism" foi um tiro certeiro. De facto, o Crato levou um banho de hedonismo, ao qual nem os mais velhos escaparam.
«Portugal, vocês já tiveram o suficiente?», perguntava ela, já sabendo perfeitamente a resposta. O "não" gritado em inglês foi ensurdecedor. Era chegada a hora do terceiro crowd surfing. Desta feita, a confiança nos braços portugueses já estava cimentada e ir deitada na prancha não lhe aguçava a adrenalina. Toca a trepar a malta e passear um bocadinho a pé por cima de umas cabeças e ombros. É claro que até lhes podia causar dores de morte, mas o semblante empolgado e as interjeições de gáudio disfarçavam-no com distinção. E ela de certeza que caiu. Isto é, caiu na artimanha porque no chão ninguém permitiu.
No meio disto tudo, o que mais embasbacou nem foi o show off de Skin, mas sim a facilidade com que continuava a escancarar os maxilares, de uma flexibilidade tal, que chegava a parecer que nos queria devorar. Como quem não quer a coisa, Skin mete a mão ao bolso e saca instintivamente três ou quatro oitavas, sempre a agudizar. E isto, fazia-o tanto em palco, parada, como na turbulência dos crowd surfing's. O ar endiabrado e a rispidez das cordas vocais foram apanágio de uma atuação inqualificável, que o Crato não vai esquecer tão cedo. Quando voltou ao palco para o encore, cantaram-se os parabéns a Cass, baixista que também esteve em grande destaque durante o concerto. Como tributo ao público pelo seu comportamento exemplar, Skin desembrulhou "Follow me down", irrompendo pelo meio da multidão como se de Moisés se tratasse. Jackpot!
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